Federal Reserve pode influenciar fluxo cambial no mercado de commodities
Preços do milho voltam a cair no mercado interno. Pesquisadores do Cepea divulgaram os dados nesta segunda-feira (04).
Foto: divulgação - Embrapa/Renata Silva

O cenário macroeconômico global mantém foco nas expectativas sobre a política monetária dos Estados Unidos. O Federal Reserve sinaliza possíveis cortes de juros a partir de setembro. Esse movimento impactaria diretamente o fluxo cambial global.

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A perspectiva de queda na taxa americana tende a fortalecer moedas emergentes, especialmente o real. A ampliação do diferencial de juros favorece essa tendência. O real apresenta trajetória de valorização desde janeiro, movimento que pode se intensificar nos próximos meses.

O Brasil enfrenta fatores adicionais de risco. O processo eleitoral de 2026 já começa a influenciar o mercado. Historicamente, a proximidade do calendário eleitoral gera maior volatilidade cambial, principalmente no último trimestre do ano anterior.

Tensões comerciais globais mantêm incertezas relevantes. As medidas protecionistas e retaliações entre EUA e China afetam os fluxos internacionais de commodities.

“O mercado de grãos opera sob forte influência não apenas de fundamentos agrícolas, mas também do ambiente macroeconômico”, avalia Thais Italiani, gerente de Inteligência de Mercado de Grãos & Oleaginosas da Hedgepoint Global Markets.

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Milho 2025/26 inicia com expectativa de oferta robusta

A produção mundial deve crescer mais de 60 milhões de toneladas em relação ao ciclo anterior. Os Estados Unidos puxam esse crescimento. A demanda também avança significativamente, sustentada pelo consumo para ração e crescimento do uso industrial, principalmente para etanol.

O quadro global sinaliza abundância de oferta, mas apresenta nuances importantes. Qualquer descompasso climático na América do Sul ou aumento inesperado da demanda chinesa pode alterar o balanço.

Brasil revisa safra de milho para 138,2 milhões de toneladas

A Hedgepoint revisou a safra total 24/25 para 138,2 milhões de toneladas. O número fica acima da estimativa de junho (+3,7 milhões de toneladas) e do USDA (132 milhões de toneladas). Produtividades recordes em várias regiões do Centro-Oeste explicam essa revisão, segundo Luiz Roque, coordenador de Inteligência de Mercado.

A empresa projeta estoques finais de 11,6 milhões de toneladas, mais folgados que o ciclo anterior. O consumo interno em expansão impulsiona o setor de etanol de milho. Na temporada 2024/25, cerca de 24 milhões de toneladas devem abastecer a produção de etanol. Esse volume pode dobrar em poucos anos com novas usinas entrando em operação.

As exportações alcançam estimativa de 42 milhões de toneladas, mas enfrentam risco de redução. A forte competitividade do milho americano explica essa pressão.

A comercialização da segunda safra segue lenta (43% versus 50% da média histórica). Produtores seguram parte do volume esperando preços melhores.

Os preços domésticos em Campinas ficam em torno de R$ 64-65 por saca. A ampla oferta pressiona esses valores (dados até 29/08).

O Brasil terá de competir também com a Argentina, que deve ampliar exportações no próximo ciclo, avalia o analista.

Estados Unidos projetam safra recorde de 425 milhões de toneladas

O USDA surpreendeu o mercado em agosto ao projetar safra recorde de 425 milhões de toneladas. Essa estimativa fica muito acima das expectativas médias (406-407 milhões de toneladas). Trata-se da maior safra já registrada no país.

Os estoques devem subir de 33 milhões de toneladas para 53 milhões de toneladas. Isso amplia a pressão sobre os contratos em Chicago, que já romperam o piso de US$ 4,30 por bushel. Atualmente trabalham próximos a US$ 4,00 por bushel.

As exportações mantêm ritmo forte. Mais de 18 milhões de toneladas já foram vendidas para 2025/26, praticamente o dobro do ano anterior no mesmo período.

O clima favoreceu todo o desenvolvimento da safra. Os índices vegetativos (NDVI) ficaram acima da média histórica. Boas condições marcaram o início da colheita.

Eventuais revisões de produtividade pelo USDA em setembro/outubro podem reduzir parcialmente a estimativa. Ainda assim, o quadro permanece confortável.

China mantém potencial para ampliar importações

A China projeta estoques finais em queda. Produção estável e crescimento do consumo explicam esse cenário.

As margens da suinocultura permanecem em patamares baixos. Isso limita estímulos para aumento imediato do uso de ração. O rebanho permanece elevado e estável.

O governo chinês pode optar por recompor estoques estratégicos (em torno de 190-200 milhões de toneladas). Há espaço para importações adicionais, criando oportunidade para Brasil e Argentina. Em 2023/24, o Brasil exportou mais de 20 milhões de toneladas para a China.

No curto prazo, o milho americano tende a continuar mais competitivo. Isso pode impactar as exportações brasileiras.

Argentina ganha competitividade após unificação cambial

A produção atual fica estimada em 50 milhões de toneladas, com possibilidade de aumento para 2025/26. As margens do milho superam as da soja. A expectativa é de crescimento da área.

O câmbio unificado pelo governo argentino reduziu distorções e aumentou previsibilidade. Isso incentiva a comercialização antecipada. Produtores já venderam cerca de 5% da nova safra (versus 1% no mesmo período do ano passado).

As exportações devem crescer, competindo diretamente com o milho brasileiro no segundo semestre.

O risco climático permanece relevante. A NOAA projeta 60% de chance de La Niña ainda em 2025. Isso pode trazer seca na Argentina e Sul do Brasil, afetando produtividades.

Trigo mundial apresenta oferta abundante com pressão baixista

A produção tende a superar a do ano anterior. União Europeia e Rússia puxam principalmente esse crescimento. A Ucrânia permanece limitada pela guerra.

Os estoques globais não crescem no mesmo ritmo e devem permanecer próximos aos níveis de 2024/25. Isso sugere equilíbrio, mas ainda com pressão baixista devido à oferta abundante, segundo a Hedgepoint.

Estados Unidos mantêm produção estável

A produção fica um pouco abaixo da safra passada, devido à menor área. Boas produtividades sustentam os números.

As exportações podem crescer levemente (até 24 milhões de toneladas). Os estoques permanecem elevados.

Chicago continua pressionado. O peso da ampla disponibilidade global e forte concorrência internacional explicam esse cenário.

União Europeia amplia produção significativamente

A safra alcança estimativa de 138 milhões de toneladas, contra 122 milhões de toneladas no ciclo anterior.

As importações devem cair de 11 para cerca de 6 milhões de toneladas. As exportações devem aumentar.

O ganho de competitividade europeia pressiona também as exportações da Ucrânia. Estas já sofrem com restrições logísticas e impostos reestabelecidos pela UE.

A produção argentina fica projetada próxima de 20 milhões de toneladas, com exportações em crescimento.

No Brasil, a área de trigo permanece limitada por margens pouco atrativas. Isso afeta especialmente o Sul (RS e PR). O país mantém dependência das importações de trigo argentino.

Ucrânia enfrenta múltiplas limitações

A produção fica estimada entre 20-23 milhões de toneladas, bem abaixo do pré-guerra (33 milhões de toneladas).

Além das restrições logísticas, o retorno dos impostos de importação na UE reduz o acesso do trigo ucraniano ao mercado europeu. As exportações devem voltar a cair.

Rússia consolida posição de maior exportador

A produção permanece em expansão. As exportações ganham impulso com a retirada (quase total) dos impostos de exportação.

Apesar de problemas pontuais de clima durante o desenvolvimento da safra, as colheitas indicam produtividades acima da média. Isso consolida a Rússia como maior exportador mundial.