Resumo da notícia
- O governo Trump aplicou tarifas de 50% sobre produtos brasileiros como carne bovina, café e pescados, alterando o comércio bilateral e pressionando preços nos EUA, enquanto o Brasil busca novos mercados para compensar perdas.
- A carne bovina nos EUA já subiu 7,2% em 12 meses, com projeções de alta entre 15% e 20% até 2026 devido às tarifas, mas o impacto inflacionário é limitado, pois a carne representa apenas 0,5% do índice oficial de preços ao consumidor.
- Os preços da carne moída nos EUA subiram 11,75% em seis meses, alcançando US$ 6,504 por libra, em meio a escassez global de proteína animal e estoques americanos em níveis históricos baixos, agravando a pressão sobre o mercado.
- O Brasil perdeu mercado nos EUA, seu terceiro maior destino, representando 12% das exportações de carne bovina, mas compensou com aumento das vendas para México, Rússia e Chile; especialistas alertam para riscos na competitividade e margens dos exportadores.
Em agosto de 2025, o governo Trump impôs tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, incluindo carne bovina, café e pescados. A medida altera as dinâmicas comerciais entre os países e pressiona os preços nos Estados Unidos, enquanto o Brasil busca adaptar-se aos novos desafios.
Dados do Bureau of Labor Statistics mostram que a carne bovina já subiu 7,2% nos últimos 12 meses nos EUA. Com as tarifas, analistas projetam altas entre 15% e 20% até 2026. Apesar disso, o impacto inflacionário tende a ser limitado, já que a carne representa apenas 0,5% do CPI (índice de inflação oficial americano).
Nos supermercados dos EUA, o preço médio da carne moída atingiu US$ 6,504 por libra (cerca de R$ 77,71/kg), um aumento de 11,75% em seis meses . Essa alta ocorre em um contexto de escassez global de proteína animal, com os estoques pecuários americanos em seus níveis mais baixos em 70 anos.
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Leandro Avelar, CEO da JPA Agro, marketplace líder do setor, alerta: “Tarifa é imposto, e imposto é preço alto. Barreiras comerciais refletem-se no consumidor final e na competitividade dos exportadores”. A afirmação sintetiza o cenário de tensão que une política, comércio e agropecuária.
Brasil: perda de mercado e competitividade
Os Estados Unidos são o terceiro maior destino das exportações do agronegócio brasileiro, atrás apenas da China e da União Europeia. Em 2025, o país respondia por 12% das exportações brasileiras de carne bovina, com um faturamento estimado em US$ 1 bilhão .
Com as tarifas, embora as vendas diretas aos EUA tenham caído, o Brasil aumentou as exportações para outros mercados, como México, Rússia e Chile. Em agosto de 2025, as exportações brasileiras de carne bovina atingiram uma média diária de US$ 74,55 milhões, alta de 70,1% em relação ao mesmo período de 2024.
Ainda assim, especialistas alertam para riscos de perda de competitividade e margens. “O mercado americano é insubstituível para o Brasil em termos de rentabilidade”, afirma Leandro Avelar. Ele destaca que a dependência de alguns exportadores em relação aos EUA chega a 40% do faturamento.
Efeitos distintos entre EUA e Brasil
A percepção do aumento de preços varia significativamente entre os dois países:
- Nos EUA, a carne bovina representa cerca de 1,3% do orçamento familiar médio. Cada 1% de aumento no preço eleva a inflação geral em apenas 0,05 ponto percentual.
- No Brasil, a carne tem peso de 3,5% no IPCA, e famílias comprometem mais de 5% da renda mensal com o produto.
Essa diferença explica por que os americanos absorvem melhor os aumentos, enquanto no Brasil qualquer alta é sentida de forma imediata.
A questão de percepção e a diplomacia
Avelar destaca a importância da percepção pública sobre os preços. “Se o aumento da carne cair no inconsciente popular americano, a pressão sobre o governo vai crescer”, avalia. Essa dimensão psicológica pode influenciar revisões da medida.
O executivo defende que o Brasil separe questões políticas de comerciais nas negociações. “Os EUA são o segundo maior cliente do Brasil e o que deixa margens mais atraentes. É irracional colocar isso em risco por disputas alheias ao comércio”.
Além das respostas diplomáticas, o Brasil precisa enfrentar gargalos domésticos:
- Alta carga tributária
- Legislação trabalhista complexa
- Deficiências em infra estrutura logística
“O problema não é só a tarifa americana. Precisamos olhar para dentro e reduzir impostos, modernizar leis e melhorar nossa logística”, afirma Avelar. Somente com ganhos de eficiência interna o país manterá sua posição global diante de concorrentes como Austrália e Argentina.
A dependência dos EUA de importações de carne – o país importa 26,6% de sua carne bovina do Brasil – sugere que as exportações brasileiras manterão relevância. No entanto, o ambiente exige cautela e inteligência estratégica.
“Se a carne passar a ser vista como ‘cara demais’ nos EUA e esse discurso ganhar corpo, a tarifa pode entrar no centro do debate e abrir caminho para negociações”, conclui Avelar. Até lá, o Brasil deve reforçar sua competitividade e diversificar mercados.