Exportações para mercado americano caem, mas Brasil diversifica destinos. Inflação da carne preocupa consumidores nos EUA.

Em agosto de 2025, o governo Trump impôs tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, incluindo carne bovina, café e pescados. A medida altera as dinâmicas comerciais entre os países e pressiona os preços nos Estados Unidos, enquanto o Brasil busca adaptar-se aos novos desafios.

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Dados do Bureau of Labor Statistics mostram que a carne bovina já subiu 7,2% nos últimos 12 meses nos EUA. Com as tarifas, analistas projetam altas entre 15% e 20% até 2026. Apesar disso, o impacto inflacionário tende a ser limitado, já que a carne representa apenas 0,5% do CPI (índice de inflação oficial americano).

Nos supermercados dos EUA, o preço médio da carne moída atingiu US$ 6,504 por libra (cerca de R$ 77,71/kg), um aumento de 11,75% em seis meses . Essa alta ocorre em um contexto de escassez global de proteína animal, com os estoques pecuários americanos em seus níveis mais baixos em 70 anos.

Leandro Avelar, CEO da JPA Agro, marketplace líder do setor, alerta: “Tarifa é imposto, e imposto é preço alto. Barreiras comerciais refletem-se no consumidor final e na competitividade dos exportadores”. A afirmação sintetiza o cenário de tensão que une política, comércio e agropecuária.

Brasil: perda de mercado e competitividade

Os Estados Unidos são o terceiro maior destino das exportações do agronegócio brasileiro, atrás apenas da China e da União Europeia. Em 2025, o país respondia por 12% das exportações brasileiras de carne bovina, com um faturamento estimado em US$ 1 bilhão .

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Com as tarifas, embora as vendas diretas aos EUA tenham caído, o Brasil aumentou as exportações para outros mercados, como México, Rússia e Chile. Em agosto de 2025, as exportações brasileiras de carne bovina atingiram uma média diária de US$ 74,55 milhões, alta de 70,1% em relação ao mesmo período de 2024.

Ainda assim, especialistas alertam para riscos de perda de competitividade e margens. “O mercado americano é insubstituível para o Brasil em termos de rentabilidade”, afirma Leandro Avelar. Ele destaca que a dependência de alguns exportadores em relação aos EUA chega a 40% do faturamento.

Efeitos distintos entre EUA e Brasil

A percepção do aumento de preços varia significativamente entre os dois países:

  • Nos EUA, a carne bovina representa cerca de 1,3% do orçamento familiar médio. Cada 1% de aumento no preço eleva a inflação geral em apenas 0,05 ponto percentual.
  • No Brasil, a carne tem peso de 3,5% no IPCA, e famílias comprometem mais de 5% da renda mensal com o produto.

Essa diferença explica por que os americanos absorvem melhor os aumentos, enquanto no Brasil qualquer alta é sentida de forma imediata.

A questão de percepção e a diplomacia

Avelar destaca a importância da percepção pública sobre os preços. “Se o aumento da carne cair no inconsciente popular americano, a pressão sobre o governo vai crescer”, avalia. Essa dimensão psicológica pode influenciar revisões da medida.

O executivo defende que o Brasil separe questões políticas de comerciais nas negociações. “Os EUA são o segundo maior cliente do Brasil e o que deixa margens mais atraentes. É irracional colocar isso em risco por disputas alheias ao comércio”.

Além das respostas diplomáticas, o Brasil precisa enfrentar gargalos domésticos:

  • Alta carga tributária
  • Legislação trabalhista complexa
  • Deficiências em infra estrutura logística

“O problema não é só a tarifa americana. Precisamos olhar para dentro e reduzir impostos, modernizar leis e melhorar nossa logística”, afirma Avelar. Somente com ganhos de eficiência interna o país manterá sua posição global diante de concorrentes como Austrália e Argentina.

A dependência dos EUA de importações de carne – o país importa 26,6% de sua carne bovina do Brasil  – sugere que as exportações brasileiras manterão relevância. No entanto, o ambiente exige cautela e inteligência estratégica.

“Se a carne passar a ser vista como ‘cara demais’ nos EUA e esse discurso ganhar corpo, a tarifa pode entrar no centro do debate e abrir caminho para negociações”, conclui Avelar. Até lá, o Brasil deve reforçar sua competitividade e diversificar mercados.