Resumo da notícia
- Pesquisa inédita da Embrapa e UFRGS identificou 19 compostos bioativos e 26 terpenos na polpa do umbu, destacando seu alto potencial antioxidante e aroma exótico, com aplicações em alimentos funcionais, cosméticos e medicamentos.
- A fração "não extraível" da polpa representa 82% dos polifenóis totais, com alta capacidade antioxidante, combatendo radicais livres associados a doenças crônicas e envelhecimento celular.
- O aroma exótico do umbu, causado por compostos como citral e β-linalol, atrai indústrias de alimentos e cosméticos, que veem a fruta como matéria-prima para produtos inovadores e de alto valor agregado.
- O aproveitamento integral do umbu pode fortalecer a economia circular no semiárido nordestino, gerando renda para agricultores familiares e valorizando o umbuzeiro como patrimônio cultural da Caatinga.
Uma pesquisa científica inédita acaba de revelar o potencial transformador do umbu (Spondias tuberosa Arruda), fruta nativa do semiárido brasileiro. O estudo, realizado em parceria entre a Embrapa e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), caracterizou pela primeira vez de forma abrangente os compostos químicos e aromáticos da polpa do fruto, apontando aplicações que vão desde alimentos funcionais até cosméticos e medicamentos.
Os resultados impressionaram os pesquisadores. Segundo a professora Juliane Welke, da UFRGS, o trabalho investigou tanto os compostos fenólicos tradicionais quanto aqueles negligenciados em estudos anteriores, chamados de “não extraíveis”.
“Descobrimos que essa fração não extraível representa 82% do conteúdo total de polifenóis da polpa de umbu e apresenta alta capacidade antioxidante”, explica a doutoranda Rafaela Silveira, autora principal do estudo.
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Os antioxidantes são substâncias que combatem os radicais livres no organismo, associados ao envelhecimento celular e a doenças crônicas como cânceres e problemas cardiovasculares.
19 compostos bioativos identificados
A análise identificou 19 compostos fenólicos e um ácido orgânico na polpa do umbu. Entre os destaques estão flavonoides como miricetina, rutina, quercetina e kaempferol – moléculas já reconhecidas pela ciência por seus efeitos anti-inflamatórios e cardioprotetores.
“Essas substâncias reforçam o potencial do umbu como ingrediente funcional que vai muito além da alimentação, alcançando aplicações farmacêuticas”, afirma Silveira.
Aroma exótico atrai indústrias
No campo dos aromas, a pesquisa encontrou 26 terpenos, além de álcoois, ésteres, ácidos, aldeídos e cetonas. Compostos como citral, β-linalol, nerol e p-cimeno são os principais responsáveis pelo perfil aromático exótico do umbu, que combina notas cítricas, florais e doces.

O perfil diferenciado já desperta interesse das indústrias de alimentos e cosméticos, que enxergam na fruta uma matéria-prima inovadora para produtos de alto valor agregado.
Economia circular e geração de renda
Além dos benefícios nutricionais e sensoriais, o aproveitamento integral do umbu pode impulsionar a economia circular no semiárido nordestino, segundo Aline Biasoto, pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente.
Atualmente, a fruta é comercializada principalmente em forma de polpa por cooperativas locais, sendo utilizada na produção de geleias, compotas, sorvetes, sucos, licores e cervejas artesanais.
O umbuzeiro, capaz de armazenar água em suas raízes para sobreviver às secas prolongadas, é considerado patrimônio cultural do semiárido. A coleta dos frutos é tradicionalmente realizada por agricultores familiares, garantindo sustento a diversas comunidades da Caatinga.
Cultivares melhoradas ampliam possibilidades
Saulo de Tarso Aidar, pesquisador da Embrapa Semiárido e coordenador do projeto de biodiversidade da Caatinga, acredita que a nova caracterização científica pode abrir novos mercados para o fruto e ampliar seu impacto socioeconômico.
Desde 2019, a Embrapa já registrou quatro cultivares melhoradas de umbuzeiro no Ministério da Agricultura e Pecuária: BRS 48, BRS 52, BRS 55 e BRS 68. Todas apresentam produtividade superior à média e estão adaptadas ao bioma Caatinga.
“Os novos materiais representam um passo importante na domesticação do umbuzeiro, reduzindo a dependência do extrativismo”, explica Visêldo Ribeiro, da Embrapa Semiárido.
Estudos futuros devem aprofundar o papel dos compostos fenólicos do umbu na saúde intestinal e avaliar aplicações específicas em alimentos funcionais e suplementos nutricionais. No campo dos aromas, os pesquisadores pretendem explorar o potencial dos terpenos em produtos cosméticos e alimentícios.
A pesquisa reposiciona o umbu, até então subutilizado e com altas perdas pós-colheita, como matéria-prima estratégica para inovação industrial, unindo saúde, sustentabilidade e tradição cultural do semiárido brasileiro.
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O estudo, de Rafaela Silveira, UFRGS, Karolina Hernandes, UFRGS, Luana Mallmann, UFRGS, Viseldo Oliveira, Embrapa Semiárido, Cláudia Zini, UFRGS, Aline Biasoto, Embrapa Meio Ambiente e Juliane Elisa Welke, UFRGS, está disponível aqui.