Uma inovação científica desenvolvida no Piauí está trazendo esperança para uma das regiões mais castigadas pela desertificação no Brasil. Pesquisadores aplicaram, pela primeira vez, um hidrogel 100% natural em Gilbués, município que concentra a maior área de solo degradado do país.
O produto, criado a partir de polissacarídeos extraídos do babaçu e do cajueiro, tem a capacidade de reter água no solo por mais tempo, favorecendo o crescimento de mudas mesmo durante longos períodos de estiagem. A iniciativa faz parte de um projeto maior, que visa recuperar 10 hectares de terra dentro do Núcleo de Pesquisa de Recuperação de Áreas Degradadas e Combate à Desertificação (Nuperade).
Educação e sustentabilidade: alunos participam de plantio simbólico
Um dia de campo marcou o lançamento da tecnologia e reuniu 45 alunos do quinto ano da Unidade Escolar Denilde Alencar. Cada criança plantou e batizou uma muda de espécie nativa ou frutífera, criando uma conexão emocional com a recuperação ambiental.
“Começar esse trabalho com as crianças foi essencial. Elas agora têm um vínculo afetivo com o solo e com o meio ambiente. É uma forma de plantar futuro não só na terra, mas também nas pessoas”, afirmou Gustavo Carvalho, assessor da Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh).
Diferença chave: hidrogel natural vs. sintético
Enquanto os géis convencionais usam derivados de petróleo em sua composição, o hidrogel desenvolvido no Piauí adota matérias-primas locais e oferece uma alternativa totalmente biodegradável.
“Nosso produto mantém a umidade do solo por mais tempo, reduzindo a necessidade de irrigação e ajudando as plantas a sobreviverem em períodos críticos de seca – tudo isso sem causar danos ao meio ambiente”, explicou Adriano Akira, diretor da Afert Biofertilizantes, uma das empresas parceiras do projeto.
Gilbués, localizado a 800 km ao sul de Teresina, já perdeu mais de 7 mil km² para a desertificação, com impactos devastadores na agricultura, biodiversidade e qualidade de vida da população.
“Esta tecnologia pode ser adaptada para outras áreas do semiárido brasileiro. É ciência feita no Piauí com potencial para transformar realidades em todo o país”, destacou Edson Cavalcanti Filho, pesquisador da Universidade Federal do Piauí (UFPI) e representante do INCT Polissacarídeos.
Unindo ciência e comunidade
A expectativa é que o projeto sirva como modelo para outras regiões afetadas pela desertificação, combinando pesquisa científica, educação ambiental e participação comunitária.

“Essa tecnologia é diferente de tudo que já foi testado no Brasil. Ela prova que, com as ferramentas certas, é possível recuperar até mesmo solos que pareciam perdidos para sempre”, concluiu João Xavier, presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Piauí (Fapepi).
Importância
- Sustentável: utiliza recursos naturais locais e não polui.
- Eficiente: reduz a necessidade de irrigação, economizando água.
- Escalável: técnicos e produtores podem aplicar essa solução em outras áreas do semiárido.
- Educativo: envolve a comunidade, especialmente crianças, na preservação ambiental.
Com essa iniciativa, o Piauí não só avança no combate à desertificação, mas também se consolida como polo de inovação em tecnologias verdes.
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