Resumo da notícia
- O piquiá é um fruto amazônico rico em vitaminas A, B1, B2 e B5, além de compostos antioxidantes e anti-inflamatórios, com potencial terapêutico e alto valor nutricional reconhecido pela medicina popular.
- Encontrado em vários estados da Amazônia e na Guiana Francesa, o piquiá possui polpa amarela e casca espessa, utilizada tanto na culinária tradicional quanto em tratamentos populares, especialmente após cozimento.
- Na gastronomia, o piquiá é consumido cozido com farinha de mandioca, arroz e carne, ou em doces e farofas, enquanto seu óleo é usado para fritar peixes, destacando-se pela versatilidade e sabor regional característico.
- Pesquisadores e indústrias de cosméticos e nutracêuticos estão começando a explorar o piquiá, valorizando seus compostos bioativos presentes até nas cascas, que têm propriedades antioxidantes e antienvelhecimento.
A biodiversidade amazônica esconde uma joia nutricional que ainda permanece desconhecida pela maioria dos brasileiros. O piquiá (Caryocar villosum), fruto nativo da floresta amazônica, concentra propriedades nutricionais e terapêuticas que despertam o interesse crescente de pesquisadores, chefs de cozinha e indústrias de cosméticos.
O piquiazeiro, árvore típica da floresta pluvial amazônica, pertence à família das cariocaráceas e ocorre naturalmente nos estados do Amazonas, Roraima, Amapá, Pará, Maranhão, Rondônia e Mato Grosso Piquiá. A espécie também marca presença na Guiana Francesa, demonstrando sua adaptação ao clima tropical úmido.
O fruto apresenta forma esférica, ligeiramente achatada nos polos, com tamanho comparável ao de uma laranja grande. Sua casca marrom-acinzentada revela-se espessa e carnuda, abrigando quatro bagos em formato de rim. A polpa amarela, com espessura entre 3 e 10 milímetros, adere firmemente ao caroço central.
Riqueza nutricional: vitaminas e compostos bioativos do piquiá
O fruto destaca-se pelo alto teor de vitaminas A, B1, B2 e B5, além de concentrar taninos e substâncias fenólicas. Esses compostos conferem ao piquiá propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias reconhecidas pela medicina popular amazônica.
A polpa fornece óleo rico em gorduras boas, que a população amazônica utiliza tanto na culinária quanto para fins terapêuticos. Estudos recentes revelam que até as cascas do piquiá, que representam 65% do fruto, contêm compostos bioativos com propriedades antioxidantes e antienvelhecimento.
Como consumir o piquiá na culinária tradicional amazônica
O piquiá-amazônico torna-se comestível apenas após o cozimento, processo fundamental para amolecer a casca e cozinhar a polpa, preservando os nutrientes. A forma tradicional de consumo une a polpa cozida à farinha de mandioca, acompanhada de café, uma combinação apreciada há gerações.

Evandro Borel/Flickr
Enquanto crianças costumam consumir o fruto roendo diretamente a polpa, em outras regiões da Amazônia as pessoas raspam a polpa e misturam com arroz e carne. O piquiá também pode ser assado na brasa, preparado como doces em compotas e geleias, ou incorporado a pratos salgados como farofas e ensopados.
A versatilidade do fruto permite sua utilização em patês e cozidos com frango caipira, enquanto as castanhas torradas conquistam cada vez mais apreciadores. O óleo extraído da polpa serve principalmente para fritar peixes, conferindo sabor característico aos pratos regionais.
Potencial biotecnológico: do cosmético ao nutracêutico
Apesar de ser uma planta nativa da Amazônia, o Caryocar villosum ainda recebe pouca exploração do ponto de vista biotecnológico e nutracêutico. Pesquisadores trabalham no desenvolvimento de alimentos funcionais e produtos cosméticos a partir da polpa, amêndoa e óleo do fruto.
O uso biotecnológico do piquiá já permite a produção de sabonetes esfoliantes utilizando casca, polpa e semente, além de aplicações na fabricação de tintas e tingimento de tecidos. As substâncias aromáticas como fenólicos e flavonoides despertam interesse especial da indústria cosmética.
A exploração sustentável do piquiá representa uma oportunidade de valorizar a biodiversidade amazônica, gerar renda para comunidades locais e oferecer ao mercado nacional e internacional um ingrediente natural com múltiplas aplicações. Enquanto açaí e buriti já conquistaram protagonismo, o piquiá aguarda seu momento de reconhecimento como superalimento amazônico.