Condições climáticas extremas no Brasil e no Vietnã, os maiores produtores globais, são a principal causa da disparada nos preços
xicara de café

Os amantes do café estão enfrentando mais do que apenas um choque de cafeína. Os preços do produto dispararam para níveis recordes, pressionando o bolso dos consumidores em todo o mundo, inclusive no Brasil. O principal motor dessa alta é uma crise de oferta causada por condições climáticas voláteis que devastaram as colheitas nos maiores produtores globais: Brasil e Vietnã.

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Foto: Agência Agro em Campo

Dados do Bureau of Labor Statistics dos EUA mostram que o preço do café torrado moído atingiu o valor histórico de US$ 8,41 por libra em julho, um aumento de 33% em doze meses. Globalmente, os preços se mantêm próximos aos picos de 50 anos registrados no início do ano.

A crise por trás da xícara

O fenômeno denominado “chicotada de precipitação” – que alterna secas severas com fortes tempestades – é apontado por especialistas como o grande vilão. No Brasil, maior produtor mundial (40% do suprimento global), uma seca intensa no último verão devastou as plantações. Na sequência, o Vietnã, segundo maior produtor, enfrentou uma seca que reduziu sua produção em 20% neste ano e, depois, chuvas torrenciais que comprometeram ainda mais a qualidade e a quantidade dos grãos.

“A seca estressa os pés de café e, em seguida, o excesso de água afeta a qualidade e a quantidade do grão”, explicou Mike Hoffmann, professor emérito da Cornell University, em entrevista.

Além do clima, as empresas, como a Starbucks, optaram por reduzir seus estoques em vez de comprar grãos a preços elevados no mercado, o que diminuiu ainda mais a reserva disponível para absorver choques.

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Impacto no dia a dia e perspectivas futuras

Para o consumidor final, o impacto varia conforme o local de consumo. Nos supermercados, os preços flutuam mais rapidamente com o custo da commodity, subindo com força e oferecendo promoções eventuais em momentos de queda. Já nas cafeterias, o impacto pode ser mais amortecido.

A curto prazo, analistas como Danilo Gargiulo, da Bernstein, preveem uma certa estabilização dos preços. No entanto, o cenário de longo prazo é de alerta. O aumento da frequência de eventos climáticos extremos e o crescimento constante do consumo global indicam que a era do café barato pode ter chegado ao fim.

“A mudança climática não vai desaparecer. A severidade das secas e inundações vai piorar. Isso não afeta apenas o café, mas todo o suprimento de alimentos”, alertou Hoffmann.

Portanto, a conclusão dos especialistas é clara: os consumidores devem se acostumar com preços estruturalmente mais altos para sua próxima xícara.