Resumo da notícia
- Pesquisadores monitoram desde 2024 onças-pintadas e pretas no Cerrado do Norte de Minas, usando armadilhas fotográficas em 93 mil hectares, área três vezes maior que Belo Horizonte.
- O projeto, apoiado pelo Ministério Público de Minas Gerais e executado pela ONG Onçafari, já identificou 27 onças, sendo seis melânicas, com destaque para a alta proporção dessas na região.
- O desmatamento isola as onças no Cerrado nativo, limitando seu habitat, o que gera problemas genéticos e reprodutivos devido ao confinamento em áreas menores.
- Para garantir a sobrevivência, pesquisadores sugerem a criação de corredores ecológicos que permitam circulação e diversidade genética, preservando o equilíbrio do bioma e a espécie guarda-chuva.
Pesquisadores monitoram desde meados de 2024 as onças-pintadas e pretas que habitam o Cerrado nativo do Norte de Minas. O projeto “Onças – Guardiãs do Grande Sertão Veredas” utiliza armadilhas fotográficas distribuídas em 93 mil hectares, área equivalente a três vezes o tamanho de Belo Horizonte.
O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) viabiliza a iniciativa com recursos de medidas compensatórias, por meio do Semente, núcleo que incentiva projetos sociais e ambientais. A organização não-governamental Onçafari executa o trabalho de campo.
A equipe já identificou 27 onças-pintadas na região, sendo seis com pelagem preta. O coordenador do projeto, biólogo Eduardo Fragoso, destaca que a região do Parque Nacional Grande Sertão Veredas possui uma das maiores proporções de onças melânicas do mundo.
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“As onças-pintadas e pretas são a mesma espécie. A diferença na cor ocorre devido a uma mutação genética. As pintas existem embaixo da pelagem negra, mas não é possível vê-las a olho nu”, explica Fragoso.
Nascimento de trigêmeos marca quinta fase do monitoramento
A quinta fase do projeto registrou o nascimento de filhotes trigêmeos de uma onça-pintada. A equipe acompanha a mãe dos filhotes desde 2019, quando ela nasceu na região do Parque.

Dois biólogos e dois assistentes de pesquisa compõem o time que monitora a área mineira. As armadilhas fotográficas captam imagens e vídeos automaticamente ao detectar movimentação. O Parque Nacional Grande Sertão Veredas abrange 230 mil hectares entre Minas Gerais e Bahia.
Desmatamento transforma Cerrado em ilha isolada
O projeto revela que as onças permanecem exclusivamente nas áreas de Cerrado nativo. Imagens de satélite mostram que o bioma natural se transforma em uma ilha cercada por pastos e lavouras.
“As onças-pintadas não andam nas lavouras nem nas pastagens. Elas não saem do Cerrado”, afirma Fragoso. O biólogo aponta o desmatamento como a maior ameaça aos animais.
O confinamento em espaços cada vez menores força as onças a cruzarem com animais da mesma família. Esse isolamento genético causa doenças consanguíneas e problemas reprodutivos que comprometem a preservação da espécie.
Corredores ecológicos podem garantir sobrevivência dos felinos
Os pesquisadores propõem a criação de corredores ecológicos de mata nativa. Essas passagens permitiriam que as onças circulem livremente por territórios extensos e encontrem outras populações da espécie para reprodução.
“As onças-pintadas e pretas precisam de áreas gigantescas para viver. Ao entendermos o comportamento desses animais e o ambiente necessário para eles, ajudamos a proteger o meio ambiente, as onças e todos os outros bichos que convivem no mesmo bioma”, explica o coordenador.
Os pesquisadores classificam as onças como “espécie guarda-chuva”. No topo da cadeia alimentar, elas controlam as populações de outras espécies e mantêm o equilíbrio ecológico dos ecossistemas onde vivem.
Caça ilegal ameaça presas naturais e gera conflitos
A presença de caçadores representa outra ameaça significativa. Os caçadores matam tanto as onças quanto os animais menores que servem de alimento para os felinos.
“Sem as presas naturais, as onças podem atacar animais de criação na região, como o gado, gerando conflito com os moradores”, informa Fragoso.
A equipe aplica questionários nas comunidades tradicionais do entorno do Parque para identificar os principais conflitos entre a população local e as onças. Em um ano, os pesquisadores aplicaram cerca de 80 questionários e pretendem chegar a 100.
As respostas coletadas complementarão as ações educacionais ambientais realizadas com as comunidades locais. O trabalho busca promover a convivência pacífica entre humano