Cores vibrantes revelam origem natural e cultivo tradicional
Foto: Associação Cânions Paulistas/Wikimedia Commons/CC BY-SA 4.0

Roxo, vermelho, laranja, preto e até azul. As cores vibrantes do milho crioulo surpreendem quem está acostumado apenas com o milho amarelo dos supermercados. A humanidade domesticou o milho há milhares de anos, e desde então agricultores familiares preservam múltiplas variedades, com tamanhos, cores e formatos diversos. Essas espécies não sofreram alterações industriais e crescem de forma orgânica.

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“Eles têm essas cores justamente porque são alimentos vindos de uma produção tradicional. O milho se modificou naturalmente ao longo do tempo”, explica Weruska Davi, nutricionista e pesquisadora do Núcleo de Estudos em Ciência, Cultura e Comida (ECCCo) da USP. A doutoranda pela Faculdade de Saúde Pública da USP complementa: “Os alimentos vão se conformando à vivência deles no solo, ao que precisam mais ou menos. Ele tem essas cores diferentes porque é natural mesmo”.

Sabor e nutrição superiores marcam as variedades tradicionais

As espécies crioulas apresentam variações nutricionais que também resultam em diferenças de sabor. Cada variedade se adapta melhor a diferentes modos de preparo. Fubás, canjicas, pamonhas e curaus feitos a partir dessas variedades oferecem sabores e consistências completamente diferentes dos produtos derivados do milho transgênico que a indústria utiliza amplamente.

Além da riqueza de sabores e princípios bioativos, as sementes crioulas desempenham papel fundamental na manutenção da biodiversidade e da cultura agrária brasileira. Anos de cultivo e cruzamentos genéticos naturais tornaram essas espécies mais adaptadas aos seus próprios territórios, o que garante a soberania alimentar e a subsistência da agricultura familiar.

Weruska Davi, nutricionista, pesquisadora do Núcleo de Estudos em Ciência, Cultura e Comida (ECCCo) da USP. Foto: ResearchGate

“Para a agricultura familiar, a gente vê que tem uma facilidade por reduzir os insumos na hora desse cultivo, então isso ajuda muito eles também”, destaca Weruska. A pesquisadora ressalta que a menor necessidade de insumos torna a plantação do milho crioulo menos danosa aos ecossistemas próximos, com menor gasto de água e redução no uso de agrotóxicos devido aos defensivos naturais da planta.

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Onde encontrar e como consumir milho crioulo

A introdução do milho crioulo na dieta, com seus formatos, cores e sabores diferentes, combate a monotonia alimentar. Nos grandes centros urbanos, consumidores encontram esses alimentos nos mercadões municipais, institutos voltados à agroecologia e produtos orgânicos, feiras da agricultura familiar e até restaurantes especializados.

Fora dos ambientes urbanos, as feiras agroecológicas e feiras livres se destacam como bons locais para encontrar produtores de milho crioulo. “Embora nas feiras livres uma parte dos feirantes traga produtos do Ceasa, alguns vendem seus próprios cultivos”, observa Weruska. A conversa e o contato direto ampliam a rede de conhecimento sobre onde encontrar esses produtos. Muitos produtores também vendem seus produtos online.

Receitas tradicionais ganham nova dimensão com variedades crioulas

As possibilidades culinárias do milho crioulo são vastas: milho cozido, pamonha, curau, canjica, cuscuz e quitandas como broa, biscoito e bolo. O fubá de milho crioulo também oferece qualidade superior.

“Eu queria chamar a atenção para a qualidade das receitas que esse milho crioulo pode dar para a gente, que é totalmente diferente de um milho convencional”, enfatiza Weruska. A pesquisadora incentiva: “Para as pessoas procurarem mais, conhecerem e experimentarem. Eu tenho certeza que não vai ter mais como consumir outro tipo de milho ou os produtos do milho que não seja o crioulo”.