A Embrapa Agricultura Digital e a C3 Ambiental iniciaram, em maio, uma parceria para valorizar pequenos e médios produtores rurais que preservam a floresta. A iniciativa foca no bioma Mata Atlântica e abrange propriedades em Lagoinha e Jacupiranga, municípios do interior paulista. Esses locais integram o projeto Semear Digital, coordenado pela Embrapa e financiado pela Fapesp, que promove tecnologias inovadoras e sustentáveis para pequenas e médias propriedades.
Por meio do programa Floresta & Carbono, a C3 Ambiental incentiva a conservação e recuperação de matas nativas, remunerando agricultores via mercado de carbono pelos serviços ambientais prestados. O projeto faz parte do BioMA Carbono, que cobre todo o bioma Mata Atlântica. Em Lagoinha, no Vale do Paraíba, a iniciativa atua desde 2023 com 13 propriedades participantes. Apesar da presença da Serra Quebra-Cangalha, um dos maiores contínuos de floresta atlântica do vale, a região apresenta fragmentos florestais isolados por pastagens, resultado da pecuária leiteira, principal atividade local.
Em Jacupiranga, no Vale do Ribeira, a iniciativa será apresentada oficialmente aos produtores em reunião na Câmara Municipal no dia 6 de junho, durante a Semana do Meio Ambiente. Jacupiranga abriga a porção mais preservada da Mata Atlântica paulista e conta com 505 estabelecimentos agropecuários, destacando-se a produção de banana e palmito pupunha.
Débora Drucker, da Embrapa Agricultura Digital, explica que a parceria visa desenvolver soluções que incentivem a preservação da floresta em propriedades rurais, conservando a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos da Mata Atlântica. “A remuneração por créditos de carbono oferece uma oportunidade de renda para os produtores, aliada a outras ações que promovem a sustentabilidade agrícola”, afirma.
O projeto inclui capacitação de agentes multiplicadores sobre conservação, uso sustentável do solo e biodiversidade, com conteúdo definido em conjunto com os atores envolvidos.
Pagamento por serviços ambientais e mercado de carbono
A Mata Atlântica perdeu grande parte da vegetação original e mantém apenas 12,4% da cobertura natural. Cerca de 80% desses remanescentes estão em propriedades rurais privadas, evidenciando a importância de iniciativas que protejam a biodiversidade, melhorem a qualidade da água e do ar, controlem a temperatura, sequestram carbono e promovam serviços ecossistêmicos como polinização e redução de gases de efeito estufa.
Além dos benefícios ambientais, a conservação florestal pode gerar renda alternativa para produtores. O carbono estocado nas matas se converte em créditos de carbono, negociados com empresas e pessoas que buscam compensar emissões. O mercado voluntário de carbono segue regras rigorosas de certificação para garantir transparência e rastreabilidade.
Vanessa Fuentes, diretora de Operações da C3 Ambiental, destaca que pequenos e médios produtores enfrentam dificuldades para entrar no mercado de carbono devido aos custos e complexidade da certificação, tanto nacionalmente, com a Lei nº 15.042/2024, quanto internacionalmente. “Esses processos exigem metodologias específicas e auditorias independentes, inviabilizando a participação individual. Por isso, iniciativas que promovem a inclusão são fundamentais”, explica.
A C3 Ambiental usa um modelo agrupado que reúne diversos produtores em uma única certificação, diluindo custos, facilitando o acesso ao mercado e viabilizando a geração de créditos mesmo para propriedades menores.
Uso de DNA ambiental para monitoramento da biodiversidade
A parceria também prevê pesquisas para aplicar técnicas avançadas de avaliação e monitoramento da biodiversidade via DNA Ambiental. Essa técnica coleta amostras de solo, água e outros componentes para extrair fragmentos de DNA das espécies locais.
A análise genética ajuda a mapear a biodiversidade e pode gerar indicadores de qualidade ambiental. Em áreas com agricultura integrada à conservação, esses indicadores podem futuramente apoiar processos de certificação e a criação de créditos de biodiversidade.
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