Com a colheita da safra 2024/25 em ritmo acelerado no Centro-Oeste, produtores de algodão enfrentam um mercado desafiador. Ou seja, parte da safra ainda não foi comercializada, e os preços seguem pressionados por fatores distintos.
A escassez de algodão de alta qualidade no mercado interno tem sustentado os preços. Ao mesmo tempo, a recente guerra comercial entre Estados Unidos e China gera incertezas nas exportações globais da fibra. Corretores e analistas informam que grande parte do algodão premium já foi exportada ou está comprometida para embarque. Por isso, a baixa oferta aliada à demanda crescente tem impulsionado a valorização da pluma. Em geral, esse cenário favorece os produtores que ainda mantêm estoques de qualidade. No entanto, para garantir bons resultados, será essencial investir em práticas eficazes no campo.
Maturação da fibra influencia a qualidade da colheita de algodão
O agrônomo Augusto Sanches, coordenador técnico de mercado da Nitro, orienta que os produtores fiquem atentos à maturação da fibra. Ele ressalta que o uso de maturadores permite uma colheita mais uniforme e melhora o padrão da pluma. “O estágio de maturação da fibra é determinante para a qualidade do algodão”, explica Sanches. “Além disso, o controle de plantas daninhas evita contaminações que reduzem o valor da produção”, completa.
Nutrientes e aminoácidos garantem peso e qualidade do capulho
Sanches destaca que o enchimento das maçãs é uma fase crítica para o potencial produtivo da lavoura. Nesse período, a planta transfere os fotoassimilados para os órgãos reprodutivos. “A aplicação de nutrientes como potássio, magnésio, boro e aminoácidos mantém o metabolismo ativo. Isso favorece o peso e a qualidade do capulho”, afirma o agrônomo.
Controle preventivo reduz impacto de pragas e doenças
Doenças como mancha-alvo e ramulária exigem atenção redobrada neste momento da safra. Segundo Sanches, o manejo preventivo é a melhor estratégia no combate a essas doenças. “O ideal é iniciar o uso de defensivos biológicos no início do ciclo. Assim, evita-se o aumento da pressão no final da safra”, recomenda.
O controle do bicudo-do-algodoeiro ainda depende de soluções químicas. Portanto, para essa praga, o manejo integrado permanece essencial para proteger a produção.
Lagartas exigem estratégias combinadas no manejo de pragas
As lagartas atacam diretamente as maçãs e prejudicam a produtividade. Sanches orienta o uso de tecnologias biológicas baseadas em vírus, combinadas com defensivos químicos. “Essa estratégia protege as estruturas reprodutivas e garante a manutenção do rendimento final”, observa.
Cenário internacional pode favorecer algodão brasileiro no médio prazo
O conflito comercial entre EUA e China impacta os fluxos globais da fibra. O governo americano aumentou as tarifas sobre produtos chineses, o que pode alterar o cenário das importações. Se a China reduzir a compra de algodão americano, o Brasil pode ocupar esse espaço. “Mas ainda é cedo para medir o impacto. A China também está investindo em produção interna”, pondera Sanches.
De acordo com o USDA, a China deve produzir 27,1 milhões de fardos em 2024/25. Já o Brasil caminha para uma safra recorde: 3,89 milhões de toneladas de pluma, alta de 5,1% sobre o ciclo anterior, segundo a Conab.
Qualidade será chave para aproveitar janelas de valorização
Apesar da boa expectativa de produção, o mercado permanece volátil no curto prazo. Além disso, as disputas comerciais continuam provocando oscilações nos preços internacionais. Especialistas indicam que pode haver recuperação dos preços, impulsionada pela competição com soja e milho. Sanches alerta que a qualidade será o diferencial nas vendas futuras. “O produtor que ainda não vendeu precisa investir em manejo e qualidade. Assim, terá chances de aproveitar valorizações pontuais”, conclui.
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