Enquanto o preço do azeite de oliva extravirgem bate recordes no Brasil – com alta de até 80% em 2023, segundo o IBGE –, um produto menos conhecido ganha espaço nas prateleiras: o óleo de bagaço de oliva. Extraído da massa residual da azeitona (sementes, polpa e pele), ele é vendido como alternativa econômica, mas gera dúvidas entre consumidores. Afinal, é saudável? Pode substituir o azeite tradicional? E por que custa até 5 vezes menos?
Por que o bagaço de oliva virou tendência?
A crise global na produção de azeite, impulsionada por secas na Espanha (maior produtor mundial) e conflitos na Ucrânia (que afetaram exportações), elevou os preços do produto no Brasil, onde 99% do azeite consumido é importado. Enquanto uma garrafa de 500 ml de extravirgem varia entre R$ 50 e R$ 120, o óleo de bagaço de oliva é encontrado por R$ 15 a R$ 30 no mesmo volume. A diferença chamou a atenção de consumidores e até de redes de supermercados, que ampliaram a oferta do produto.
O que é o óleo de bagaço de oliva?
O óleo é obtido a partir do resíduo da prensagem das azeitonas – o bagaço –, que ainda contém cerca de 5% a 8% de gordura. Para extraí-lo, são usados solventes químicos (como hexano) e processos de refinamento, diferentemente do azeite extravirgem, que é prensado a frio, sem aditivos. O resultado é um óleo com sabor mais neutro, cor clara e menor concentração de compostos bioativos, como polifenóis (antioxidantes).
Classificação oficial (COI – Conselho Oleícola Internacional):
- Azeite extravirgem: acidez ≤ 0,8%, sem defeitos sensoriais.
- Azeite virgem: acidez ≤ 2%, pequenos defeitos.
- Azeite refinado: mistura de azeites refinados e virgens.
- Óleo de bagaço de oliva: extraído do resíduo + refinado.
É seguro consumir?
Segundo a Anvisa, o produto é regulamentado e seguro, mas não pode ser chamado de “azeite”. A legislação exige que as embalagens especifiquem “óleo de bagaço de oliva refinado”. Nutricionistas, porém, ressaltam diferenças cruciais:
- Pontos positivos: contém ácido oleico (gordura monoinsaturada benéfica ao coração) e é estável para frituras (suporta até 240°C).
- Pontos negativos: perde até 90% dos antioxidantes do azeite extravirgem durante o refinamento.

Nossa equipe conversou com a nutricionista Franciane Marin, para confirmar se o uso é seguro. “Para fritura, sim. O óleo de bagaço de oliva é mais estável ao calor do que óleos refinados como soja ou canola. Porém, para consumo cru, o azeite extra virgem é muito superior devido ao maior teor de antioxidantes e benefícios cardiovasculares. Escolha marcas confiáveis, pois a falta de controle pode resultar na presença de hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (HAPs), substâncias potencialmente cancerígenas.”
Para que serve?
Indicado para frituras, assados e preparações quentes devido ao alto ponto de fumaça, o óleo de bagaço é comum em restaurantes e indústrias. Já o azeite extravirgem, sensível ao calor, é ideal para finalizar pratos ou saladas.
A Gallo, uma das principais marcas no setor, lançou o “de olliva”, um óleo de bagaço de oliva que visa atender à demanda por alternativas mais acessíveis. Cristiane Souza, CEO da Gallo no Brasil, destaca que o produto é ideal para cozimento, oferecendo uma saída para consumidores que deixaram de adquirir azeite devido à inflação.
Vale a pena comprar?
- Depende do uso:
- Para fritar: sim, é mais barato e estável.
- Para temperar: não, prefira o extravirgem.
- Para saúde: o extravirgem ainda é insubstituível.
Mercado em números
Segundo dados recentes divulgados pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), o mercado de azeite no Brasil vem enfrentando mudanças expressivas em 2024. O aumento dos preços internacionais e a redução na oferta global de azeite de oliva, sobretudo devido a problemas climáticos em países produtores como Espanha e Itália, impactaram diretamente o mercado brasileiro.
Aumento de preços e redução nas importações
Conforme informações oficiais, os preços do azeite de oliva no Brasil apresentaram crescimento significativo em 2024. Em algumas categorias, os valores aumentaram cerca de 30% em comparação com o mesmo período de 2023. Este cenário se deve, principalmente, à menor oferta no mercado internacional e à alta do dólar, que encareceu ainda mais os produtos importados — os quais representam cerca de 99% do azeite consumido no país.
Em paralelo ao encarecimento do produto, o Brasil reduziu o volume de importações. Dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) mostram que as compras externas de azeite caíram cerca de 25% no primeiro bimestre de 2024, refletindo o desaquecimento da demanda causado pela elevação dos preços.
Vendas no varejo e comportamento do consumidor
No varejo, as vendas de azeite também apresentaram oscilações. Relatórios da Associação Brasileira de Supermercados (Abras) indicam que, diante do aumento de preços, muitos consumidores migraram para marcas mais baratas ou passaram a adquirir embalagens menores. Houve ainda crescimento na busca por promoções e substituição parcial do azeite por outros óleos vegetais mais acessíveis.
Produção nacional ainda limitada
Embora o Brasil tenha iniciado esforços para desenvolver a produção nacional de azeite de oliva, a oferta interna ainda é incipiente e representa menos de 1% do consumo nacional. A produção se concentra em regiões como a Serra da Mantiqueira (MG/SP) e o Rio Grande do Sul, mas ainda enfrenta desafios relacionados a escala e custo de produção.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) reforça que o óleo de bagaço de oliva deve ser rotulado corretamente, pois trata-se de um produto obtido a partir de resíduos da produção do azeite tradicional — um óleo refinado, com características nutricionais diferentes.
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