A bioprospecção é uma técnica milenar que consiste na busca e exploração de organismos vivos – como plantas, animais e microrganismos – e seus compostos para aplicações acadêmicas, tecnológicas e industriais. No Brasil, país com a maior biodiversidade do mundo, essa prática tem enorme potencial para impulsionar a produção sustentável de alimentos. E, principalmente, o desenvolvimento de soluções inovadoras na agricultura.
O Brasil abriga mais de 116 mil espécies animais e 46 mil espécies vegetais distribuídas em seis biomas terrestres (Caatinga, Cerrado, Floresta Amazônica, Mata Atlântica, Pampas e Pantanal) e três ecossistemas marinhos. Estima-se que o país também possua mais de um trilhão de microrganismos. Dos quais cerca de 99% ainda são inexplorados, o que coloca o Brasil entre os maiores potenciais mundiais para a bioprospecção e bioeconomia.
Além da biodiversidade terrestre, o bioma marinho oferece grandes oportunidades. Em 2023, a Comissão Europeia lançou o projeto BlueRemediomics, que visa explorar espécies do fundo do mar para desenvolver processos industriais com menor impacto ambiental, reduzindo desperdícios e promovendo a reutilização de recursos naturais.
O que é bioprospecção e suas aplicações na agricultura
Bioprospecção é a busca sistemática por organismos vivos e compostos que possam ser utilizados para fins acadêmicos, tecnológicos e industriais. E abrange setores como cosmético, farmacêutico, alimentar e agrícola. Na agricultura, a técnica tem sido aplicada para desenvolver soluções baseadas na natureza (NBSs), como biofertilizantes, bioestimulantes e agentes de biocontrole que reduzem o uso de pesticidas e herbicidas químicos, promovendo uma produção mais sustentável.
Um dos maiores sucessos da bioprospecção agrícola no Brasil foi o desenvolvimento de inoculantes à base de Bradyrhizobium para fixação biológica de nitrogênio. Eles são amplamente utilizados na soja, gerando uma economia anual superior a US$ 2 bilhões para o país, segundo a Embrapa.
Ferramentas modernas para explorar a biodiversidade
A bioprospecção moderna utiliza técnicas moleculares avançadas, conhecidas como “ômicas”, que permitem mapear moléculas biológicas e compreender suas funções para aplicações práticas. Segundo Rafael de Souza, CEO da biotech Symbiomics, “os microrganismos nativos dos mais diversos biomas guardam enorme potencial para uso como biofertilizante, bioestimulantes e agentes de biocontrole”.
A Symbiomics combina tecnologias como sequenciamento genético, machine learning e edição genética para identificar microrganismos capazes de colonizar plantas e solos, aumentando a produtividade agrícola com menor impacto ambiental. “Promovemos uma agricultura mais sustentável, com menos químicos e menos nociva ao meio ambiente e à saúde humana”, afirma Jader Armanhi, COO da empresa.
Marco regulatório e importância econômica
Em 2010, os países signatários criaram o Protocolo de Nagoia para regulamentar o uso comercial de recursos genéticos, definindo diretrizes para pagamentos de royalties, transferência de tecnologia e capacitação. O Brasil ratificou o protocolo em 2021. E ele passou a vigorar oficialmente no país em 2023, fortalecendo a bioprospecção como ferramenta estratégica para a bioeconomia nacional.
Além de gerar produtos inovadores, a bioprospecção contribui para a conservação da biodiversidade e o desenvolvimento sustentável. Microrganismos explorados podem atuar como agentes de biocontrole, protegendo plantas contra pragas e estresses ambientais, e promovendo maior resistência e produtividade agrícola.
A bioprospecção, portanto, é uma das atividades científicas e econômicas mais promissoras para o futuro da agricultura no Brasil. Combinando o vasto patrimônio natural do país com tecnologias de ponta para promover uma produção alimentar mais eficiente, sustentável e alinhada às demandas ambientais globais.
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