Enquanto o Brasil exporta frutas como açaí e cupuaçu, outras espécies nativas permanecem no anonimato, apesar de seu potencial nutricional e ecológico. É o caso da laranjinha-do-mato (Eugenia speciosa), uma pequena fruta da Mata Atlântica que combina sabor peculiar, importância ambiental e riscos de desaparecer antes mesmo de ser descoberta pelo grande público.

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A laranjinha-do-mato é uma árvore ou arbusto da família Myrtaceae, a mesma da pitanga e da goiabeira. Seu porte varia de 1 a 20 metros, dependendo do ambiente: em restingas, surge como arbusto baixo; em florestas, alcança copas altas. Seus frutos, de 1,5 a 2,5 cm de diâmetro, têm casca alaranjada e polpa suculenta, com sabor que mistura notas de pitanga e laranja — daí o nome popular.

Nativa da Mata Atlântica, ocorre desde Minas Gerais até o Rio Grande do Sul, mas enfrenta ameaças como o desmatamento e a fragmentação de habitats. Apesar disso, não consta em listas oficiais de espécies ameaçadas, o que pode mascarar seu risco real.

Ecologia e usos sustentáveis

A espécie é chave para a restauração ambiental: seus frutos atraem aves, que dispersam as sementes (zoocoria), e suas flores brancas, que surgem entre agosto e novembro, alimentam abelhas, tornando-a uma planta melífera. Além disso, é resistente a geadas e adapta-se a solos pobres, sendo ideal para reflorestamento e paisagismo urbano.

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Para comunidades locais, a laranjinha-do-mato oferece múltiplos usos:

  • Alimentação: consumida in natura ou em geleias e sucos, sua polpa é rica em vitamina C e antioxidantes, embora estudos detalhados sobre sua composição nutricional ainda sejam escassos.
  • Madeira: utilizada na confecção de cabos de ferramentas e como lenha.

A falta de pesquisas científicas aprofundadas é um obstáculo. Enquanto frutas como açaí e jabuticaba ganham destaque internacional, a laranjinha-do-mato permanece à margem, mesmo com seu potencial para prevenir doenças crônicas — algo já comprovado em outras frutas nativas, como açaí e buriti, que modulam a microbiota intestinal e reduzem inflamações.

Iniciativas de cultivo são promissoras: viveiros como o Safari Garden e a Fábrica das Árvores comercializam mudas por cerca de R$ 50, com produção prevista a partir de dois anos de plantio. Já projetos como o do Coletivo em Folhas incentivam a troca de sementes para preservação.

Um chamado à ação

A laranjinha-do-mato simboliza o paradoxo da biodiversidade brasileira: riqueza ignorada. Especialistas defendem que sua conservação exige:

  • Inclusão em políticas públicas de reflorestamento.
  • Estudos nutricionais para valorizar seu consumo.
  • Divulgação em feiras e mercados locais.

Como lembra o biólogo Vitor Lauro Zanelatto, da Apremavi, “espécies como essa são tesouros que podem sumir antes mesmo de serem conhecidas”. Enquanto isso, sua sobrevivência depende de olhares atentos — e do paladar curioso de quem se aventurar a provar suas “mini-laranjas” silvestres.

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