Resumo da notícia
- Um vídeo recente mostrou dois tatus-canastra juntos durante o dia, comportamento raro pois são solitários e noturnos, chamando atenção para a espécie que está em risco crítico de extinção.
- Segundo biólogos, a saída diurna pode ser causada por incômodos como ataques, caçadores ou eventos climáticos extremos, que forçam os animais a buscar abrigo em áreas mais seguras.
- O tatu-canastra é classificado como Vulnerável globalmente, mas na Mata Atlântica está Criticamente em Perigo, com ameaça agravada pela perda de habitat, caça ilegal, atropelamentos e poluição.
- Desmatamento, expansão agropecuária, caça predatória e atropelamentos em rodovias são os principais fatores que mantêm a espécie em situação precária, exigindo ações urgentes para sua conservação.
Resumo gerado pela redação.
Um vídeo gravado recentemente em uma estrada brasileira está chamando a atenção de moradores e biólogos ao registrar dois tatus-canastra (Priodontes maximus) caminhando juntos durante o dia. Considerada a maior e mais rara espécie de tatu do mundo, essa aparição dupla é um evento incomum, já que esses animais são naturalmente solitários e de hábitos noturnos. A filmagem, feita por uma pessoa que passava pelo local, não só revela a curiosidade comportamental, mas também reacende o alerta para o risco crítico de extinção que essa espécie emblemática enfrenta.
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A cena, que mostra os dois indivíduos adultos cruzando uma via, é surpreendente. Como explica o biólogo José Fernando de Sousa Lima, estudioso de mamíferos, “ele passa a maior parte do dia entocado, só sai durante a noite. O que faz ele sair durante o dia é ser incomodado”. Esse “incômodo” pode ser provocado por ataques de outros animais, pela presença de caçadores ou, como apontado em outro contexto, por eventos climáticos extremos, como cheias no Pantanal, que forçam os animais a buscar terrenos mais altos e secos.
Um gigante sob ameaça: a situação atual do tatu-canastra
A afirmação presente no vídeo de que o tatu-canastra está em risco de extinção é, infelizmente, verdadeira e alarmante. A situação atual da espécie é classificada como Vulnerável (VU) em nível global pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN). No entanto, a realidade é ainda mais grave em biomas específicos do Brasil. Na Mata Atlântica, por exemplo, a espécie é categorizada como Criticamente em Perigo (CR), o que significa que está a um passo da extinção nesse ecossistema.
Os principais fatores que levaram e ainda mantêm o tatu-canastra nessa situação precária são:
- Perda e fragmentação de habitat: a expansão agropecuária e o desmatamento para cultivos como a soja e a pecuária, além de monoculturas de eucalipto, destroem e fragmentam o ambiente natural desses animais. O Cerrado, um de seus habitats, já perdeu mais de 80% de sua vegetação nativa em algumas regiões, como Mato Grosso do Sul.
- Caça ilegal: a caça predatória, seja para consumo de sua carne – considerada um “petisco” em algumas regiões – seja por retaliação de apicultores (já que os tatus podem destruir colmeias para comer larvas), é uma ameaça significativa. Apesar de ser crime ambiental com pena de detenção e multa, a prática ainda persiste.
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- Atropelamentos: a construção de rodovias próximas aos seus habitats corta os corredores naturais por onde os tatus se deslocam. Com grandes áreas de vida (podem se deslocar por vastos territórios), eles são forçados a cruzar estradas, resultando em muitos atropelamentos. O Cerrado é recordista nesse triste índice, com 22 animais vitimados nos últimos 14 anos.
- Poluição e contaminação: uma ameaça silenciosa e recentemente descoberta preocupa os cientistas. Um estudo de 2025 revelou contaminação por microplásticos e metais pesados (como chumbo, cromo e manganês) em 100% das amostras de fezes de tatus-canastra analisadas no Parque Estadual do Rio Doce (MG). Essa poluição, oriunda de rejeitos de mineração, fertilizantes agrícolas e lixo, pode causar infertilidade, danos orgânicos e tumores, impactando a longo prazo a sobrevivência da população.
Curiosidades sobre o tatu-canastra
- Engenheiro do ecossistema: suas enormes tocas (com até 5m de profundidade) abrigam mais de 70 outras espécies. Que as usam como refúgio térmico e contra predadores .
- Gigante solitário: pode medir 1,5m e pesar mais de 50 kg. É o maior tatu do mundo.
- Visão péssima, olfato excelente: localiza seu alimento favorito (cupins e formigas) principalmente pelo olfato apurado.
- Baixa taxa reprodutiva: o intervalo entre gestações pode chegar a três anos, o que dificulta muito a recuperação de suas populações.
- Esperança e esforços de conservação
Portanto, apesar do cenário desafiador, existem iniciativas robustas empenhadas em reverter o destino do tatu-canastra. O Projeto Tatu-Canastra, liderado pelo Instituto de Conservação de Animais Silvestres (ICAS), completa mais de uma década de pesquisas e é uma luz no fim do túnel. O projeto atua em vários fronts:
- Pesquisa e monitoramento: utiliza colares com GPS e armadilhas fotográficas para entender os padrões de movimento, saúde e genética da espécie. Recentemente, monitorou simultaneamente oito indivíduos, um recorde.
- Engajamento comunitário: diálogo com proprietários de terras para criar corredores ecológicos e conscientizar sobre a importância do animal. Desenvolve até um selo “Apicultor Amigo do Tatu-canastra” para mitigar conflitos.
- Educação ambiental: leva informação a milhares de alunos em escolas rurais e urbanas, transformando o tatu em um símbolo de conservação.
O programa é tão relevante que é o único representante da América Latina concorrendo ao prestigiado Prêmio Beauval Nature 2025.
Tabela: status de conservação do tatu-canastra (priodontes maximus) em diferentes biomas
Um símbolo de resistência
O vídeo casual que flagrou dois tatus-canastra é mais do que uma simples curiosidade. É também um registro raro da resistência de uma espécie à beira do desaparecimento. Cada avistamento como esse é um lembrete valioso de que esses gigantes discretos ainda persistem em meio às pressões humanas.
Sua sobrevivência a longo prazo, no entanto, não depende da sorte de encontros fortuitos. Mas sim da manutenção e expansão de esforços de conservação, da aplicação efetiva das leis ambientais e da conscientização de toda a sociedade sobre seu papel crucial como “engenheiros” dos ecossistemas brasileiros. Portanto, preservar o tatu-canastra, como bem resumiu um fiscal ambiental, é sinônimo de preservar o Cerrado, o Pantanal e a Mata Atlântica.
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