Resumo da notícia
- Um lote de 20 kg do café Geisha lavado da Hacienda La Esmeralda, Panamá, foi vendido por US$ 604.080 no Best of Panama 2025, estabelecendo um recorde histórico de US$ 30.204 por kg, adquirido pela Julith Coffee de Dubai.
- O Geisha panamenho, avaliado em 98 pontos pela Specialty Coffee Association, é valorizado por suas notas sensoriais complexas e técnicas rigorosas de cultivo e processamento em altitudes elevadas.
- Além do lote recordista, outros cafés da Hacienda La Esmeralda alcançaram preços elevados, refletindo um aumento expressivo no valor médio dos lotes no leilão, que quase dobrou em relação a 2024.
- Especialistas alertam que preços tão altos podem gerar expectativas irreais para produtores, distorcendo o mercado e dificultando a valorização justa para a maioria dos cafeicultores.
Um lote de 20 kg de Geisha lavado, produzido pela famosa Hacienda La Esmeralda em Boquete, no Panamá, foi vendido por US$ 604.080 (cerca de R$ 3,3 milhões). A venda correu durante o Best of Panama 2025, o leilão internacional de cafés especiais mais prestigiado do mundo. O valor equivale a US$ 30.204 por kg (aproximadamente R$ 160 mil). Isso representa um recorde histórico para o setor. O lote foi arrematado pela Julith Coffee, um roastery e brew lounge de Dubai.
A transação superou o recorde anterior, estabelecido em 2024, quando um lote de Geisha processado por mel foi vendido por US$ 13.518 por kg. O café panamenho, que recebeu 98 pontos na escala da Specialty Coffee Association (SCA), é reconhecido por suas notas sensoriais complexas, incluindo goiaba, pêssego branco, jasmim, laranja doce e capim-limão, além de acidez vibrante e sabor limpo.
O que torna o Geisha panamenho tão especial?
A variedade Geisha (ou “Gesha”) é originária da Etiópia, mas foi no Panamá que ganhou status de lenda. Cultivada em altitudes acima de 1.800 metros – nas montanhas de Boquete, Chiriquí –, a planta se beneficia de microclimas únicos, solos vulcânicos e técnicas de processamento meticulosas. O lote recordista passou por fermentação de 48 horas em baixa temperatura e secagem em ambiente controlado para preservar sabores e aromas.
Além do lote lavado, a mesma Hacienda La Esmeralda vendeu um lote de Geisha natural por US$ 23.608 por kg (cerca de R$ 129 mil) para a chinesa JD.com e um lote da variedade Laurina por US$ 8.040 por kg para a Beijing Specialty Drink Technology. No total, os 50 lotes leiloados atingiram uma média de US$ 2.861,20 por kg – quase o dobro do valor de 2024 – e 30 deles ultrapassaram a barreira de US$ 1.000 por kg.
Impacto no mercado global de cafés especiais
A Specialty Coffee Association of Panama (SCAP) organiza o Best of Panama, que atrai compradores de todo o mundo, principalmente da Ásia e do Oriente Médio, onde os cafés premium alcançam grande valorização. Neste ano, os participantes registraram 549 lances apenas para o lote recordista.
Para Rachel Peterson, da Hacienda La Esmeralda, o resultado é um reconhecimento do trabalho de decades. “Isso reflete muitas mãos, muito trabalho árduo e uma busca compartilhada por algo extraordinário”.
No entanto, especialistas alertam que preços tão elevados podem criar distorções no mercado. Diego Baraona, produtor de El Salvador, observa: “Preços exorbitantes em leilões podem criar uma ideia falsa do que outros produtores recebem por seus cafés. Muitos plantam Geisha esperando valores similares, mas acabam com uma variedade de baixo rendimento e alta manutenção”.
O papel de Dubai e dos compradores premium
A Julith Coffee, que inaugurou suas portas em Dubai em agosto de 2025, posiciona-se como um espaço de experiência premium para cafés especiais. Liderada por Serkan Sagsoz, campeão turco de torra e barista, a empresa planeja preparar o café em doses de 20g, com cada xícara custando cerca de US$ 270 (R$ 1.430).
Richard Koyner, presidente da SCAP, destaca que o Panamá produz apenas 200.000 sacas de café por ano. Isso representa uma fração mínima do mercado global, mas conseguem se destacar pela qualidade e inovação. O país é hoje sinônimo de excelência e terroir, atraindo não apenas compradores, mas também turistas e investidores para regiões como Boquete e Tierras Altas.
Perspectivas futuras e tendências de consumo
O recorde do Geisha panamenho reflete uma tendência broader de valorização de microlotes e cafés com perfil sensorial único. Projetos como o Florada no Brasil – que apoia mulheres produtoras de cafés especiais – e o crescimento de nanolotes com pontuação acima de 88 pontos são exemplos de como a rastreabilidade, a qualidade e a história por trás do produto impulsionam mercados niche.
Especialistas como Nolan Hirte, da Proud Mary Coffee, comparam a tendência ao mercado de vinhos finos. “As pessoas que apreciam cafés raros são as mesmas que buscam vinhos, charutos cubanos e pães sourdough artesanais. Preços recordes ajudam a mudar a perspectiva sobre o potencial de qualidade do café”.
A venda recorde do Geisha da Hacienda La Esmeralda não é apenas um marco simbólico. Mas um reflexo de como qualidade, tradição e inovação podem elevar um produto a patamares inéditos. O Panamá consolida-se como origem de prestígio, e cafés especiais seguem firmes como um segmento de luxo. Portanto, atraindo investidores, colecionadores e amantes da bebida em busca de experiências sensoriais únicas.
Para o consumidor final, embora os preços sejam proibitivos, o gotejamento (trickle-down effect) dessa valorização ajuda a elevar padrões de qualidade em toda a cadeia, beneficiando produtores que investem em sustentabilidade, processamento cuidadoso e diversificação de variedades.