Programa Jovens do Mar capacita 15 participantes em gestão, liderança e sustentabilidade pesqueira
Foto: Renata Rosa / Epagri

A Epagri deu início, no dia 16 de setembro, à edição 2025 do curso “Jovens do Mar” em Itajaí. O programa capacita 15 jovens de Navegantes, Penha, Balneário Camboriú e Bombinhas em gestão, liderança e empreendedorismo pesqueiro.

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O curso acontece no Centro de Treinamento (Cetrei) e oferece hospedagem, alimentação e capacitação gratuita para jovens entre 16 e 29 anos. A formação se estende até novembro, quando os participantes apresentam planos de negócio para implementar em seus municípios.

A participação feminina cresceu significativamente no programa. Este ano, quatro mulheres se inscreveram no curso. Em 2016, apenas duas participavam da capacitação.

“Apesar de poucas mulheres saírem para pescar, são elas que fazem a gestão quando o pescado chega, sem descuidar da alimentação da família”, destaca Adriana Furtado, egressa de 2016 e atual vereadora de Balneário Piçarras.

Pesca artesanal busca renovação e sustentabilidade

A pesca sofreu mudanças drásticas no século 20. A intensificação da pesca industrial afetou o estoque de algumas espécies e levou outras à beira da extinção. Hoje, a atividade enfrenta novos desafios: mudanças climáticas e um mercado consumidor mais exigente com sustentabilidade.

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Roberto Wahrlich, oceanógrafo da Univali, explica que a pesca se equipara à atividade agrícola desde a Constituição de 1988. Porém, carece de políticas públicas devido a questões culturais e falta de representatividade política.

“Durante muito tempo, ficamos de costas para o mar. As casas ribeirinhas eram construídas com o mar nos fundos, onde se depositava todo tipo de rejeito”, afirma Wahrlich.

Metodologia inovadora ensina gestão pesqueira

A professora Janaína Bannwart, do IFSC, especializada em recursos e gestão pesqueira, utilizou metodologia prática durante as aulas. Ela conduziu dinâmica de grupo com feijões no lugar dos pescados para que os participantes decidissem regras de pesca.

A atividade demonstrou a importância das normas ambientais e a necessidade de pensar coletivamente. O objetivo é garantir que a atividade continue sendo fonte de renda para futuras gerações.

Ex-aluna se torna liderança política

Adriana Furtado exemplifica o poder transformador do curso. Em 2016, ela se escondia no fundo da sala e apenas reclamava da colônia de pescadores e do governo. Hoje, atua como vereadora e defende os trabalhadores da pesca.

Adriana fez o curso da Epagri em 2016 e hoje é vereadora em Bal. Piçarras. Foto: Renata Rosa/Epagri

“Não adianta reclamar, temos que tomar as rédeas da atividade porque os pescadores mais velhos não vão mudar o jeito de pensar”, afirma Adriana.

A vereadora conseguiu que a prefeitura investisse R$ 1 milhão na construção de um galpão público para a comunidade pesqueira. Também luta pela inclusão do pescado na merenda escolar.

Turismo pesqueiro como alternativa de renda

Adriana sugere a diversificação da atividade durante o defeso de algumas espécies. Ela propõe oferecer aos turistas experiências com a pesca artesanal.

“Quantas pessoas da cidade, que vêm ao nosso litoral de férias, não gostariam de ter um dia conhecendo a nossa atividade?”, questiona.

Jovens sonham com embarcação própria

Augusto Pinto Costa, 27 anos, veio do Pará há seis anos. Ele vive da pesca em Navegantes e quer investir no turismo pesqueiro. O jovem acredita que pode oferecer aos turistas uma vivência que para ele é rotina.

“Eu não quero ficar dependente só do peixe, quero investir no turismo porque Navegantes cresceu muito”, explica Augusto.

Nanam (na frente) é a sétima geração de pescadores do bairro São Pedro, em Navegantes. Foto: arquivo pessoal

Ele trabalha com Alexandre Machado, 32, no barco do tio de Nanam de Melo Souza, 34. O trio planeja construir embarcação própria e não mais depender de patrão. Nanam representa a sétima geração de pescadores do bairro São Pedro.

Bióloga muda visão sobre pesca artesanal

Ingrid dos Santos, 28, é bióloga de formação e uma das quatro mulheres do curso. Ela mudou radicalmente sua visão sobre a pesca após acompanhar pescadores da Praia Central, em Balneário Camboriú.

Ingrid tirou carteira de pescadora artesanal após a formação em biologia. Foto: arquivo pessoal

“Como meu pai era marinheiro de um barco do ICMBio, fui criada prezando pela questão ambiental e via nos pescadores os malvados que matavam os animais”, relembra Ingrid.

A mudança de perspectiva aconteceu em 2018. Ingrid começou a receber vídeos de pescadores soltando arraias, justamente a espécie que se tornaria seu objeto de pesquisa.

Turismo comunitário como modelo sustentável

Ingrid planeja unir conhecimentos acadêmicos com a pesca artesanal. Ela se inspira no modelo de Santos, onde um biólogo desenvolve projeto em parceria com pescadores e o SESC de Bertioga.

“Os turistas têm a experiência de um dia de arrasto de praia, onde os pescadores ensinavam sobre embarcações, redes e espécies”, explica Ingrid.

O curso Jovens do Mar existe desde 2015 e representa importante ferramenta para renovar a pesca artesanal catarinense. A iniciativa combina tradição com inovação, preparando nova geração de lideranças para os desafios do setor pesqueiro.