Resumo da notícia
- O mercado global de cacau deve registrar superávit de 287 mil toneladas em 2025/26, graças à retomada da produção fora da África Ocidental e à queda na demanda industrial, segundo projeções da StoneX.
- A África Ocidental enfrenta instabilidade produtiva, com queda na safra da Costa do Marfim e desafios climáticos e sanitários em Gana, incluindo seca, vírus CSSVD e mineração ilegal.
- Equador e Brasil lideram a recuperação global, com aumentos significativos na produção devido a condições climáticas favoráveis e adoção de variedades resistentes.
- A irregularidade climática nas principais regiões produtoras permanece como risco para a estabilidade dos preços e para o desempenho das futuras safras.
O mercado global de cacau apresenta sinais robustos de recuperação após anos consecutivos de déficit produtivo. Projeções da StoneX, empresa internacional de serviços financeiros, apontam para um superávit de 287 mil toneladas na temporada 2025/26, impulsionado pela retomada da produção em países fora da África Ocidental e pela redução na demanda industrial.
A reversão do cenário deficitário, entretanto, não elimina as incertezas. O comportamento climático nas principais regiões produtoras permanece como fator determinante para a estabilidade dos preços e o desempenho das próximas safras.
África Ocidental mantém instabilidade produtiva
A Costa do Marfim, responsável por cerca de 40% da oferta mundial, encerrou a safra 2024/25 com queda de 3,6% nas entregas, totalizando 1,69 milhão de toneladas. A redução foi provocada por períodos de seca que comprometeram a qualidade das amêndoas e aumentaram a mortalidade dos brotos.
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Embora o primeiro semestre de 2025 tenha registrado precipitações 30% superiores ao ano anterior, o trimestre seguinte apresentou retração de 40% em relação à média histórica. Para a temporada 2025/26, a StoneX projeta produção de 1,76 milhão de toneladas, mas a irregularidade climática continua representando risco elevado.
Em Gana, segundo maior produtor africano, o cenário apresenta desafios semelhantes. O país antecipou o início da safra para agosto, estimulado por um reajuste de 4,2% no preço ao produtor. No entanto, após um começo promissor com chuvas 18% acima da média, o período de julho a setembro registrou queda de 40% nos volumes pluviométricos.
Além das adversidades climáticas, Gana enfrenta a disseminação do vírus CSSVD (Cocoa Swollen Shoot Virus Disease), que afeta aproximadamente 30% das áreas cultivadas, e os impactos da mineração ilegal de ouro, responsável por perdas estimadas em 10 mil toneladas anuais.
Produtores fora da África impulsionam recuperação
Enquanto a África Ocidental lida com instabilidade, outros países emergem como protagonistas da recuperação global. O Equador deve encerrar 2024/25 com produção de 580 mil toneladas, alta de 38% em relação à temporada anterior, podendo alcançar 610 mil toneladas já em 2026/27.
“O Equador tem se beneficiado de dois anos consecutivos de regime de chuvas favorável e da adoção de variedades híbridas mais resistentes a doenças. A principal preocupação agora é o potencial impacto do fenômeno La Niña, que tende a reduzir as precipitações”, explica Lucca Bezzon, analista de Inteligência de Mercado da StoneX.

No Brasil, as condições climáticas também têm colaborado para a expansão produtiva. Dados da Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC) e da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (CEPLAC) indicam que chuvas regulares em 2024 e 2025 favoreceram a recuperação das lavouras na Bahia e o crescimento no Pará, onde a área plantada expande 4,4% ao ano.
A produção nacional deve atingir 215 mil toneladas em 2025/26, crescimento significativo frente às 180,8 mil toneladas da temporada anterior. “O uso de variedades híbridas mais adaptadas e as condições climáticas favoráveis, especialmente na região Norte, têm impulsionado a produtividade”, destaca Bezzon.
Outros países contribuem para o reequilíbrio global. Camarões deve colher 310 mil toneladas, embora enfrente risco de aumento da podridão-preta. A Nigéria, apesar da seca persistente e níveis mínimos de umidade do solo em cinco anos, projeta produção próxima a 360 mil toneladas. A Indonésia mantém dois anos consecutivos de clima favorável, com expectativa de 210 mil toneladas.
Demanda industrial em retração
O lado da demanda apresenta retração expressiva. As moagens registraram queda de 8,9% no segundo trimestre e 12,9% no terceiro trimestre de 2025. Reflexo de margens industriais comprimidas e substituição de ingredientes nas formulações.
“O processo de destruição da demanda, antecipado desde 2023, consolidou-se este ano. Os preços elevados do cacau forçaram a indústria a reformular produtos e reduzir volumes de produção”, afirma Rafael Borges, analista de Inteligência de Mercado da StoneX.
A combinação entre oferta crescente e consumo retraído deve elevar os estoques globais para 1,66 milhão de toneladas até 2026/27, com a relação estoque/demanda atingindo 35,4%, próxima à média histórica dos últimos dez anos.
Apesar da tendência de normalização, o mercado permanece vulnerável a episódios de volatilidade. “O comportamento climático continua sendo o principal ponto de inflexão. Caso a seca persista na África Ocidental entre outubro e novembro, os preços podem registrar nova alta no curto prazo. Estruturalmente, porém, o mercado caminha para um novo equilíbrio, com fundamentos mais sólidos e recomposição gradual dos estoques”, conclui Bezzon.