Resumo da notícia
- Pesquisadores da Unimontes desenvolveram uma tecnologia que reduz a germinação da macaúba de dois anos para duas semanas, viabilizando o cultivo comercial da palmeira nativa do Cerrado para biocombustível.
- A descoberta superou a dormência natural das sementes, principal obstáculo para produção em larga escala, permitindo a expansão da cultura e a produção eficiente de mudas.
- A tecnologia patenteada foi transferida para a Acelen Energia Renovável, que investirá até R$ 3 bilhões em plantios e unidades de beneficiamento, gerando empregos e impulsionando a economia local.
- O óleo da macaúba tem alto potencial para bioquerosene de aviação, promovendo energia limpa e recuperação ambiental em áreas degradadas, com expectativa de implantar até 200 mil hectares de cultivo.
Uma inovação tecnológica desenvolvida na Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) está transformando a macaúba, palmeira nativa do Cerrado brasileiro, em alternativa viável para a produção de biocombustível de aviação. A descoberta promete revolucionar o setor energético nacional e gerar centenas de empregos no Norte de Minas Gerais.

Após mais de 15 anos de pesquisa no Laboratório de Reprodução Vegetal da Unimontes, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), cientistas conseguiram um feito impressionante: reduzir o tempo de germinação das sementes de macaúba de dois anos para apenas duas semanas.
O protocolo inovador, coordenado pelo professor Leonardo Ribeiro, soluciona um dos principais gargalos para o cultivo comercial da palmeira. “Desenvolvemos tecnologias para favorecer a germinação e a produção de mudas em larga escala, possibilitando a implantação de cultivos e a expansão da cultura”, explica o pesquisador.
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Dormência das sementes: o desafio superado
O avanço científico foi possível após a equipe identificar que as sementes da macaúba apresentavam dormência natural – mecanismo que retarda a germinação para garantir sobrevivência em ambientes secos. Em condições normais, apenas 10% das sementes germinavam em até dois anos, inviabilizando economicamente o plantio comercial.
Túlio Oliveira, bolsista de pós-doutorado pela Fapemig no projeto, destaca a importância da descoberta: “Essa palmeira é uma das espécies vegetais mais oleaginosas conhecidas. Estudamos vários aspectos reprodutivos para gerar tecnologias aplicáveis”.
Da universidade à indústria: parceria bilionária
A tecnologia patenteada pela Unimontes em 2013, com concessão oficial em 2018, foi transferida em 2023 para a Acelen Energia Renovável, multinacional do setor energético. O acordo prevê investimentos totais de até R$ 3 bilhões em plantios e unidades de beneficiamento.
Já foram investidos mais de R$ 300 milhões no projeto, que gerou cerca de 90 empregos diretos na região. A empresa inaugurou recentemente em Montes Claros o maior centro de inovação para pesquisas com macaúba do mundo, capaz de produzir 10 milhões de mudas por ano.
Bioquerosene de aviação: o futuro sustentável
O óleo vegetal extraído dos frutos da macaúba apresenta alto potencial para produção de bioquerosene de aviação civil, oferecendo alternativa renovável aos combustíveis fósseis. O projeto prevê a implantação de 100 a 200 mil hectares de cultivo em áreas degradadas, promovendo recuperação ambiental aliada à geração de energia limpa.
“O coco macaúba já servia como fonte de renda para muitas famílias no Norte de Minas. Mas ainda havia muito a ser explorado. Só estamos descobrindo esse potencial graças aos investimentos em ciência e tecnologia”, afirma Bruno Araújo, secretário Executivo de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais.
Impacto regional e desenvolvimento sustentável
Para Leonardo Ribeiro, coordenador da pesquisa, o projeto representa a consolidação do papel da universidade no desenvolvimento regional. “A tecnologia gerada aqui impulsiona o desenvolvimento da região e oferece oportunidades de emprego e geração de renda para todos no Norte de Minas”, celebra o professor.

O Laboratório de Reprodução Vegetal da Unimontes já é referência nacional em estudos de palmeiras nativas, incluindo buriti e coquinho azedo, consolidando Minas Gerais como polo de inovação em bioenergia sustentável.