Especialistas alertam sobre perigos do método. Imagens mostram pessoas usando corda amarrada à cabeça da serpente para retirá-la da estrada

Um vídeo que circula nas redes sociais tem gerado preocupação entre especialistas em fauna silvestre. Nas imagens, é possível observar pessoas tentando resgatar uma sucuri que estava em uma estrada. O problema é o método utilizado: os envolvidos amarram uma corda diretamente na cabeça da serpente e começam a puxá-la para fora da rodovia.

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Embora a intenção seja louvável – afastar o animal do perigo de atropelamento – o procedimento adotado está completamente equivocado e pode causar sérios danos tanto à serpente quanto colocar as pessoas em risco significativo.

Os riscos do método inadequado

Casos de serpentes resgatadas com cordas presas ao pescoço já foram registrados por órgãos ambientais, evidenciando que essa prática inadequada é mais comum do que se imagina. Em Jaraguá do Sul, Santa Catarina, uma jararaca foi encontrada com uma corda amarrada ao pescoço, provavelmente de uma tentativa frustrada de captura por pessoas leigas.

Amarrar uma corda na cabeça ou pescoço de uma serpente pode causar diversos problemas:

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Para o animal:
  • Lesões graves na região cervical e craniana
  • Estrangulamento e dificuldade respiratória
  • Estresse extremo que pode levar à morte
  • Fraturas ou deslocamentos de estruturas ósseas delicadas
  • Danos permanentes mesmo após a remoção da corda
Para as pessoas envolvidas:
  • Risco de mordida durante a tentativa de amarrar a corda
  • Possibilidade de reação agressiva do animal ao sentir-se ameaçado
  • No caso de sucuris, risco de constrição – serpentes muito grandes e fortes podem causar morte por constrição, apertando a vítima, e se colocada no pescoço, pode apertar com força suficiente para desmaiar uma pessoa
  • Falta de controle adequado sobre o animal durante o transporte

O procedimento correto segundo especialistas

O Corpo de Bombeiros orienta a população a acionar a corporação sempre que avistar animais silvestres em áreas de circulação, já que o contato direto pode colocar em risco tanto as pessoas quanto os próprios animais.

Durante resgates profissionais, equipes especializadas utilizam gancho, cambão e cabo solteiro, equipamentos próprios para o manejo de répteis de grande porte, realizando o procedimento de forma cuidadosa, sem ferir a cobra.

Segundo o Manual de Resgate de Ofídios, existem técnicas específicas para cada tipo de serpente:

Para serpentes não venenosas como sucuris:

  • Os boídeos têm características que os tornam fáceis de serem manejados com gancho, pois devido à sua natureza de animais constritores e musculatura desenvolvida, essas serpentes tendem a se enrolarem no gancho assim que são retiradas do solo.

Para serpentes venenosas:

  • A técnica é ainda mais especializada, envolvendo contenção manual específica e conhecimento profundo sobre a anatomia do animal.

Quando chamar ajuda profissional

Especialistas do Instituto Butantan recomendam: “Se uma pessoa avistar uma serpente na mata, deixe-a seguir o seu caminho, mantendo sempre uma distância segura. Mas se o animal oferecer algum tipo de perigo, principalmente se estiver próximo às residências, o recomendado é acionar os órgãos oficiais e deixar que eles façam o resgate com total segurança”.

Quem acionar:

  • Corpo de Bombeiros: 193
  • Polícia Ambiental
  • Órgãos ambientais locais (SEMA, secretarias municipais de meio ambiente)
  • Biólogos e veterinários especializados em fauna silvestre

O que fazer enquanto aguarda ajuda profissional

  • Mantenha distância segura do animal
  • Sinalize o local se estiver em estrada, usando triângulo de sinalização a uma distância adequada
  • Afaste curiosos e impeça aproximação de pessoas, especialmente crianças
  • Não tente capturar ou manipular o animal de forma alguma
  • Tire uma foto à distância para ajudar na identificação da espécie
  • Monitore o animal de longe até a chegada da equipe especializada
  • Oriente motoristas a reduzirem a velocidade no trecho

Em casos recentes, foram necessários até seis agentes do Corpo de Bombeiros para fazer a retirada segura de uma sucuri, com acompanhamento de veterinária autorizada pela SEMA, garantindo que o resgate acontecesse de forma segura e preservando a integridade do animal.

Após o resgate, as equipes conduzem a serpente até uma área de vegetação nativa, próxima a um curso d’água e distante da zona urbana, em um local com condições adequadas para que a sucuri retorne ao habitat natural.

As sucuris e outras serpentes desempenham papel fundamental no equilíbrio dos ecossistemas. Elas atuam no controle de populações de roedores e outros animais, sendo essenciais para a saúde ambiental. A sucuri é uma das maiores serpentes do mundo e, embora não seja venenosa, pode atingir grandes dimensões e causar acidentes durante tentativas de captura inadequadas.

Crime ambiental

Vale ressaltar que manipular, capturar ou maltratar animais silvestres sem autorização dos órgãos competentes é crime ambiental previsto na Lei de Crimes Ambientais (Lei 9.605/98). A pena pode variar de seis meses a um ano de detenção, além de multa.

Acidentes com animais peçonhentos são mais comuns do que se pensa. Ao se depararem com essas e outras espécies de animais, deve-se evitar o contato com os mesmos e acionar uma equipe do Corpo de Bombeiros para realizar o procedimento de captura do animal de forma segura e correta, preservando a integridade física do animal e dos solicitantes.

A melhor forma de proteger tanto as pessoas quanto a fauna silvestre é através da informação correta e do acionamento dos profissionais capacitados. Embora seja compreensível e admirável querer ajudar, apenas equipes especializadas devem resgatar animais silvestres, especialmente serpentes de grande porte, pois possuem o treinamento, os equipamentos e o conhecimento necessários para garantir a segurança de todos os envolvidos.