Resumo da notícia
- Donald Trump anunciou a redução das tarifas sobre carne bovina, café, tomate e banana, visando conter a inflação nos EUA e beneficiando exportadores brasileiros, especialmente após sobretaxas que prejudicaram o comércio entre os países.
- A medida tem efeito retroativo desde 13 de junho, representando um raro recuo na política protecionista de Trump, mas ainda há dúvidas se o alívio abrange todas as sobretaxas, incluindo a de 40% aplicada ao Brasil.
- O Brasil, maior produtor mundial de café e segundo maior exportador de carne bovina, sofreu queda nas exportações e alta de preços nos EUA, mas vê a decisão como positiva para a retomada do diálogo técnico e a confiança no comércio bilateral.
- Enquanto negociações avançam com outros países da América Latina, o Itamaraty busca trégua e propõe suspender temporariamente as sobretaxas, mas não houve resposta oficial; o cenário permanece incerto, com Trump ajustando sua estratégia comercial.
Donald Trump assinou uma canetada que pode mudar o rumo do comércio agrícola entre Estados Unidos e Brasil. Nesta sexta (14), o presidente americano anunciou a redução das tarifas sobre carne bovina, café, tomate e banana. O gesto mira a inflação que corrói o bolso do consumidor americano, e abre espaço para os exportadores brasileiros respirarem aliviados.
A medida vem após semanas de pressão sobre o governo, especialmente depois do tarifaço que elevou os preços dos alimentos nos EUA. O texto da Casa Branca, publicado de madrugada, tem efeito retroativo: vale desde as 2h01 desta quinta (13), horário de Brasília. Um raro recuo de Trump em meio à sua cruzada por “déficits comerciais justos”.
O Brasil surge entre os maiores beneficiados. Maior produtor global de café e segundo maior exportador de carne bovina, o país vinha sofrendo com sobretaxas de até 50%. Desde agosto, as vendas de café para o mercado americano desabaram, com uma queda de 54,4% em outubro, segundo o Cecafé. E o consumidor americano sentiu o golpe: o produto acumula alta de 20% no preço médio, conforme dados oficiais de inflação (CPI).
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Ainda pairam dúvidas sobre o alcance do decreto. A nova ordem de Trump não cita diretamente a sobretaxa de 40% contra o Brasil. Especialistas avaliam que o alívio pode se aplicar apenas às tarifas de 10% impostas em abril. “Seguimos estudando o texto”, disseram analistas ouvidos pela reportagem.
Reações
Nos bastidores, o clima é de observação. A Abiec classificou a decisão como “muito positiva”, destacando que ela reforça a confiança no diálogo técnico entre os países. “A carne brasileira é reconhecida pela qualidade e regularidade. Essa medida é um passo na direção certa”, afirmou a entidade em nota.
Enquanto isso, Washington costura acordos pela América Latina. Na quinta (13), Trump anunciou negociações avançadas com Argentina, Equador, El Salvador e Guatemala — todos sem citar o Brasil. As conversas incluem promessas de abrir mercados e travar impostos sobre serviços digitais.
A Casa Branca, contudo, deixou claro: as tarifas gerais de 10% e 15% para esses países continuarão, mas alguns produtos terão exceções. Fica claro que Trump tenta calibrar a balança e conter a inflação doméstica sem perder a retórica protecionista que mobiliza sua base.
Em Brasília, o Itamaraty se move. O chanceler Mauro Vieira se encontrou com o secretário de Estado americano, Marco Rubio, em busca de uma trégua. O Brasil propôs suspender temporariamente as sobretaxas de 40% e negociar caso a caso. Nenhuma resposta oficial até o fim da noite.
O jogo comercial segue em aberto. Trump ensaia um recuo tático. O Brasil observa e espera.