Resumo da notícia
- Pesquisadores da USP, Unesp e Instituto de Pesquisas Ambientais atualizaram o inventário oficial de aves de São Paulo, catalogando 863 espécies e incluindo 76 novas desde 2011.
- O estudo identifica 125 espécies ameaçadas e 20 extintas regionalmente, fornecendo base essencial para políticas públicas de conservação no estado.
- A metodologia pioneira inclui subespécies no mapeamento, aprimorando análises científicas e fortalecendo o conhecimento para ações de proteção ambiental.
Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e do Instituto de Pesquisas Ambientais divulgaram uma nova edição da lista oficial de aves do Estado de São Paulo. O trabalho cataloga 863 espécies, distribuídas em 31 ordens e 93 famílias, e fornece o registro de referência para cada uma delas.
A publicação, disponível na revista científica Papéis Avulsos de Zoologia, adiciona 76 novas espécies e subespécies em comparação com o catálogo anterior, lançado em 2011. Os pesquisadores também reavaliaram todas as espécies descritas nas listas anteriores.
“Foi um pente-fino por bastante tempo para conferir todas as espécies e subespécies que ocorrem em São Paulo”, explica Stephanie Lee, mestranda do Instituto de Biociências (IB) da USP e primeira autora do artigo.
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Conhecer para proteger: lista orienta políticas públicas
O inventário identifica 125 espécies ameaçadas de extinção e 20 já consideradas regionalmente extintas no território paulista. Segundo os pesquisadores, a atualização oferece base sólida para o desenvolvimento de políticas de conservação no estado.
“O trabalho integra o princípio de ‘conhecer para proteger’, ou seja, é o ponto de partida para que as demais ações de pesquisa e de conservação sejam efetivas”, afirma Lee.
Luís Fábio Silveira, curador da Seção de Aves do Museu de Zoologia (MZ) da USP e coautor do estudo, reforça a importância do trabalho para as políticas públicas. “Além de organizar o conhecimento de um grupo de animais muito popular, ele dá um passo seguro para a elaboração de políticas públicas de conservação no Estado”, destaca.
Metodologia pioneira inclui subespécies no mapeamento
O estudo se destaca como um dos pioneiros a reunir tanto espécies quanto subespécies — subgrupos com características ligeiramente diferentes dentro das espécies. Segundo Silveira, a presença de subespécies refina o nível das análises científicas.

Os pesquisadores basearam o trabalho na revisão de registros ornitológicos, na publicação de 2011 e em bancos de dados e coleções de museus. As espécies aparecem divididas entre lista primária, secundária e terciária, conforme a metodologia do Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos. A lista primária confere o maior grau de confiabilidade, com registros documentados e verificáveis independentemente.
Diversidade e destruição: o paradoxo paulista
A diversidade de tipos de vegetação (Cerrado e Mata Atlântica) e de clima faz com que São Paulo abrigue cerca de 40% das espécies de aves do Brasil. No entanto, o estado também lidera o ranking nacional de espécies extintas e ameaçadas.
“São Paulo tem um número muito grande de aves, que chega a quase metade das espécies do País todo. Por outro lado, é o Estado que tem o maior número de espécies extintas e ameaçadas de extinção no País”, aponta Silveira.
A perda de habitat figura como a principal causa de ameaça à extinção. Por ser o estado mais populoso do Brasil, São Paulo sofre intensa exploração, e os ambientes naturais vêm desaparecendo ao longo do tempo.
Cerrado paulista conserva apenas 3% de área original
O Cerrado, segundo Lee, conta atualmente com apenas 3% de remanescentes naturais no estado. “Muitos dos bichos que estão ameaçados no Estado de São Paulo são justamente os que dependem desse ambiente”, completa a pesquisadora.
Algumas espécies extintas no estado possuem apenas registros muito antigos. Amostras de peles datam do século 19, coletadas pelo naturalista austríaco Johann Natterer, que veio ao Brasil após a chegada da Família Real. “Algumas das peles de aves do Estado só se encontram no Museu de História Natural de Viena”, explica Lee.
Lista oficial de fauna ameaçada precisa de atualização
Segundo a lista de fauna ameaçada do Estado de São Paulo, publicada em 2018 pelo Decreto Estadual nº 63.853, 125 espécies estão ameaçadas e 20 já são consideradas regionalmente extintas.
Lee aponta que essa lista já se encontra desatualizada e que o governo do Estado trabalha para lançar uma nova versão. “Se a gente não sabe que determinada espécie ocorre aqui em São Paulo, como ela vai ser avaliada na lista de fauna ameaçada do Estado?”, questiona.
A pesquisadora complementa que muitos dos animais considerados criticamente ameaçados provavelmente já desapareceram. Com a nova lista, os cientistas garantem que todas as espécies sejam levadas em consideração nas análises de risco de extinção e nas medidas de conservação.