No estado de Alagoas, agricultores familiares estão encontrando um novo caminho para diversificar seus produtos e aumentar a renda. A solução está em receitas de abóbora e inhame, desenvolvidas por uma equipe do Laboratório de Gastronomia do Instituto Federal de Alagoas (Ifal) em parceria com a Embrapa Alimentos e Territórios (AL) e apoio do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA).
Essas receitas incluem o uso da polpa, sementes, talos e até das cascas de inhame e abóbora, reduzindo o desperdício e melhorando o aproveitamento integral desses alimentos tradicionais da dieta nordestina.
Além disso, elas também incluem preparos culinários diferenciados, estimulando o aproveitamento integral das hortaliças e oferecendo mais uma oportunidade de geração de renda.
“Observamos que há outras variedades cultivadas na região. Esses frutos podem apresentar variações na sua composição não só nutricional, mas sensorial quando preparados para consumo. Assim, buscamos explorar essas características e conhecer melhor as propriedades benéficas à saúde, pois tanto o ambiente como o manejo, a coleta e o manuseio também interferem na qualidade dos produtos”, explica a pesquisadora da Embrapa Priscila Zaczuk Bassinello.
A abóbora é um produto consumido no País todo, mas no Nordeste, o consumo é diferenciado, pois compõe o cardápio do café da manhã ao jantar.
Há várias variedades comerciais sendo plantadas oriundas da seleção das sementes tradicionais, ou crioulas, que abastecem o mercado de outros estados da região.
Duas espécies se destacam: a moranga ou jerimum caboclo (Cucurbita maxima) e a abóbora ou jerimum de leite (Cucurbita moschata D.).O inhame, ou cará, é fonte de fibras e vitaminas, e é um alimento nutritivo rico em energia, fibras e uma fonte de vitaminas (A, C, E e complexo B) e de minerais, como potássio, ferro e cálcio.
Ele é um produto de fácil conservação, que pode durar até mais de 15 dias se for mantido em local fresco, seco, escuro e arejado.
Também pode ser congelado cru, fatiado ou cozido na forma de purê. “Foi um desafio gratificante fazer os testes, elaborar essas receitas e ministrar as oficinas”, diz a professora Ingrid Tavares de Lima, do Ifal. “A proposta foi diversificar ao máximo o consumo integral desses ingredientes, gerando uma nutrição mais completa e despertando o interesse dos agricultores e suas famílias por novas formas de preparo”, explica.
As receitas incluem desde empadinhas, bolinhos, pães, bolos, panquecas, biscoitos e chips de inhame e abóbora, até sucos e cremes. Com limão, maçã e gengibre, é possível fazer suco de inhame.
As sementes e as cascas também podem ser usadas para fazer farinha, chips e sucos, entre outros preparos.
Alagoas tem uma grande oportunidade de ampliar a sua produção de inhame para abastecer o mercado interno, que vem apresentando demanda crescente pelo produto.
Em Maceió, são comercializadas cerca de 850 toneladas de inhame por mês somente na Ceasa. Sendo que mais de 90% dos produtos comercializados no município são produzidos em outros estados.
“Nosso trabalho busca, ainda, resgatar as cultivares tradicionais de inhame barba de arame e gereba, entre outras variedades presentes na região”, conta o pesquisador da Embrapa João Gomes. “Estamos avaliando essas variedades, que são raras, para verificar se elas podem ser menos suscetíveis a doenças como a casca-preta e pinta-preta, que têm causado muitos prejuízos à cultura”, complementa.
O resgate dessas variedades tradicionais é fundamental para a manutenção da variabilidade genética e a soberania e segurança alimentar das famílias da região nordestina. Outro objetivo é incentivar o uso integral dos tubérculos a partir das variadas receitas desenvolvidas pelo Ifal, campus Marechal Deodoro.