O CEO do Carrefour, Alexandre Bompard, enviou uma carta de retratação sobre suas recentes declarações que geraram uma crise entre a rede varejista e o agronegócio brasileiro. Desde que Bompard anunciou, no dia 20 de novembro, que as lojas da empresa na França deixariam de comercializar carne proveniente do Mercosul, a reação do setor agropecuário brasileiro foi imediata e contundente. Frigoríficos como JBS, Marfrig e Masterboi suspenderam o fornecimento de carne ao Carrefour Brasil, resultando em uma possível escassez de produtos nas prateleiras da rede.
Em nota, o Carrefour Brasil lamentou a situação e afirmou que a suspensão do fornecimento impacta seus clientes, mas negou que haja desabastecimento nas lojas. No entanto, especialistas alertam que a falta de carne pode se tornar evidente em breve, dado o curto tempo de reposição dos produtos nas gôndolas. A empresa está em diálogo constante para restabelecer o abastecimento.
A decisão de Bompard foi vista como uma resposta à pressão de agricultores franceses que temem a concorrência desleal com produtos sul-americanos, especialmente no contexto das negociações do acordo de livre-comércio entre Mercosul e União Europeia. Essa posição protecionista reflete um descontentamento crescente na Europa com relação às importações agrícolas e as exigências ambientais que diferem entre os continentes.
A Embaixada da França entrou em contato com o Ministério da Agricultura do Brasil para discutir a situação. Isso evidencia a importância do tema nas relações comerciais entre os dois países. O ministro Carlos Fávaro tem se mostrado solidário ao movimento de boicote dos frigoríficos e criticou a postura do Carrefour como desproporcional.
Leia a íntegra da carta publicada pelo grupo
Ao Excelentíssimo Ministro da Agricultura e Pecuária do Brasil, Senhor Carlos Fávaro.
A declaração de apoio do Carrefour França aos produtores agrícolas franceses causou discordâncias no Brasil. Como diretor-presidente do Grupo Carrefour e amigo de longa data do país, venho, respeitosamente, esclarecê-la.
O Carrefour é um grupo descentralizado e enraizado em cada país onde está presente, francês na França e brasileiro no Brasil.
Na França, o Carrefour é o 1º parceiro da agricultura francesa: compramos quase toda a carne que necessitamos para as nossas atividades na França, e assim seguiremos fazendo. A decisão do Carrefour França não teve como objetivo mudar as regras de um mercado amplamente estruturado em suas cadeias de abastecimento locais, que segue as preferências regionais de nossos clientes. Com essa decisão, quisemos assegurar aos agricultores franceses, que atravessam uma grave crise, a perenidade do nosso apoio e das nossas compras locais
Do outro lado do Atlântico, no Brasil, compramos dos produtores brasileiros quase toda a carne que necessitamos para as nossas atividades, e seguiremos fazendo assim. São os mesmos valores de criar raízes e parceria que inspiram há 50 anos nossa relação com o setor agropecuário brasileiro, cujo profissionalismo, cuidado à terra e produtores conhecemos.
O Grupo Carrefour Brasil é profundamente brasileiro, com mais de 130 mil colaboradores, se desenvolveu e continua se desenvolvendo sob minha presidência em parceria com produtores e fornecedores do Brasil, valorizando o trabalho do setor produtivo e sempre em benefício de nossos clientes. Nos últimos anos, o Grupo Carrefour Brasil acelerou seu desenvolvimento, dobrando tanto o volume de seus investimentos no país quanto suas compras da agricultura brasileira. Mais amplamente, o Brasil é o país em que o Carrefour mais investiu sob minha presidência, o que confirma nossa ambição e nosso comprometimento com o país. Assim seguiremos prestigiando a produção e os atores locais e fomentando a economia do Brasil.
Sabemos que a agricultura brasileira fornece carne de alta qualidade, respeito as normas e sabor. Se a comunicação do Carrefour França gerou confusão e pode ter sido interpretada como questionamento de nossa parceria com a agricultura brasileira e como uma crítica a ela, pedimos desculpas.
O Carrefour está empenhado em trabalhar, na França e no Brasil, em prol de uma agricultura próspera, seguindo nosso propósito pela transição alimentar para todos. Asseguro, senhor ministro, nosso compromisso de longo prazo ao lado da agricultura e dos produtores brasileiros.
Aproveito a oportunidade para renovar os protestos de estima e consideração.
Atenciosamente,
Alexandre Bompard
Diretor-presidente do Grupo Carrefour
Crise Brasil-Carrefour
A crise começou em 20 de novembro, quando Alexandre Bompard anunciou que o Carrefour na França não compraria mais carne do Mercosul, gerando indignação no Brasil. Frigoríficos brasileiros reagiram suspendendo o fornecimento de carne ao Carrefour Brasil, levando a uma potencial escassez nos pontos de venda.
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O governo brasileiro criticou as declarações do CEO francês como protecionistas e sem fundamento. Enquanto isso, a Embaixada da França procurou o governo brasileiro para tratar do assunto. A situação destaca as tensões em torno das negociações do acordo comercial entre Mercosul e União Europeia. E também os desafios enfrentados pelo agronegócio brasileiro em um mercado global competitivo.
As exportações de carne para a França tem numeros insignificantes para o agronegócio brasileiro, mas essa união entre os setores para proteger o nome do produto nacional tem um peso muito grande. Que continue assim.