A Embrapa lança a BRS Karajá, terceira cultivar de amoreira-preta sem espinhos desenvolvida pelo seu Programa de Melhoramento Genético, trazendo avanços significativos para a produção da fruta no Brasil. A nova variedade apresenta uma combinação inovadora de eficiência na colheita, sabor aprimorado e adaptação climática, sendo vista como um marco no setor.
A BRS Karajá aumenta a eficiência na colheita em pelo menos 30%, comparada às variedades com espinhos. Esse ganho reflete-se diretamente na redução do tempo dedicado aos tratos culturais, como poda e condução da planta, ao mesmo tempo em que melhora a qualidade do fruto e facilita o trabalho no campo. “Essa cultivar elimina a penosidade associada ao manejo de plantas espinhosas, permitindo uma colheita mais rápida, segura e com menor necessidade de mão de obra”, explica o pesquisador Carlos Augusto Posser Silveira, da Embrapa Clima Temperado.
Outro destaque é o perfil sensorial do fruto. Segundo Maria do Carmo Bassols Raseira, coordenadora do programa de melhoramento genético, a BRS Karajá se diferencia pelo sabor menos amargo e pela acidez reduzida. Essas são características que a tornam mais atrativa para o consumo in natura e para a indústria de processamento. “Esse é um avanço significativo em relação às cultivares sem espinhos anteriores, como a BRS Xavante, lançada em 2004, que possuía frutos com amargor marcante”, observa a pesquisadora.
A cultivar apresenta frutos menores em comparação à BRS Xavante, mas com melhor sabor. O potencial produtivo varia entre 1,4 kg e 2,5 kg por planta, dependendo do manejo,. Podendo alcançar uma produção média de até 18 toneladas por hectare ao ano, em condições ideais.
Adaptação regional e benefícios ao produtor
A BRS Karajá adapta-se bem às Regiões Sul e Sudeste, principais polos produtores de amoreira-preta no Brasil, como Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo. A ausência de espinhos possibilita maior agilidade na colheita, preserva a integridade dos frutos. Além disso, permite que os agricultores realizem as atividades em horários mais adequados, evitando o calor intenso.
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Além disso, a cultivar facilita práticas como poda e condução, atividades influenciadas por fatores como manejo de irrigação, adubação e experiência dos trabalhadores. “A ausência de espinhos reduz o risco de lesões e melhora significativamente todas as etapas de manejo do pomar”, acrescenta Silveira.
Mercado e potencial econômico
Com a produção de amora-preta no Brasil dobrando nos últimos dez anos, a BRS Karajá surge como uma solução estratégica para atender à crescente demanda. Atualmente, o mercado brasileiro gira em torno de 15 a 20 toneladas por hectare ao ano, com 1,1 mil hectares plantados.
A nova cultivar é indicada para diferentes segmentos do mercado, desde o consumo fresco até o processamento industrial, incluindo congelamento. “Apesar do aumento no consumo in natura, o mercado industrial ainda é o principal destino das frutas de amoreira-preta”, comenta Bassols.
Trajetória do melhoramento genético
A história da BRS Karajá remonta a 2003, quando cruzamentos entre as cultivares norte-americanas Brazos e Arapaho deram origem à seleção Black 132, da qual se originaram os primeiros testes da Karajá. A Brazos, desenvolvida no Texas, é conhecida pela baixa exigência em frio, frutos grandes e maturação precoce. Enquanto a Arapaho, criada pela Universidade do Arkansas, contribuiu com características de resistência.
Após anos de pesquisa no campo experimental da Embrapa Clima Temperado, em Pelotas (RS), a BRS Karajá consolidou-se como uma cultivar robusta, eficiente e alinhada às necessidades do mercado brasileiro.
Homenagem à cultura indígena
Registrada no Ministério da Agricultura em março de 2023, a BRS Karajá foi oficialmente lançada durante a 47ª Expointer, em Esteio (RS), um dos maiores eventos agropecuários do país. As mudas já estão disponíveis em viveiros licenciados em Pelotas (RS) e Ipuiuna (MG). Após o plantio, os produtores podem esperar os primeiros frutos em aproximadamente um ano.
A BRS Karajá, além de prestar homenagem à cultura indígena com seu nome, representa um avanço significativo na fruticultura nacional, oferecendo aos agricultores uma solução mais eficiente, econômica e sustentável. Com ela, a Embrapa reforça seu papel como protagonista no desenvolvimento de cultivares que aliam inovação e tradição.