Pesquisadores identificaram novas espécies de abelhas-sem-ferrão no Refúgio Biológico Bela Vista (RBV), localizado no oeste do Paraná. O estudo, realizado entre 2021 e 2023 por instituições como a Embrapa Florestas, Itaipu Binacional e Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), resultou na criação de coleções vivas e de referência, além de estabelecer protocolos para o manejo e identificação das abelhas nativas.
Os dados coletados evidenciam a importância das abelhas-sem-ferrão, também conhecidas como meliponíneos, na manutenção dos ecossistemas por meio da polinização de plantas. Além disso, o levantamento permite direcionar políticas públicas voltadas à criação de abelhas nativas, contribuindo para a conservação da biodiversidade e o fortalecimento da meliponicultura no estado.
Estudo detalhado e avanços científicos
O projeto analisou espécies presentes em cerca de dois hectares no RBV, abrangendo vegetações naturais e áreas reflorestadas pela Embrapa Florestas. Linhas de amostragem (transectos) foram traçadas para capturar abelhas em todas as estações do ano, utilizando redes de mão e iscas-ninho. O levantamento também incluiu registros históricos e biológicos, possibilitando um mapeamento completo das espécies na região.
“A análise ampla das abelhas-sem-ferrão no Paraná gera dados fundamentais para a conservação e gestão de ecossistemas locais. Esse conhecimento pode ser usado para monitoramento ambiental e até estudos moleculares futuros”, afirma Guilherme Schühli, pesquisador da Embrapa Florestas.
A pesquisa resultou em duas coleções de abelhas-sem-ferrão: uma viva, localizada no RBV, e outra de referência, armazenada no Parque Tecnológico Itaipu. Essas coleções são essenciais para futuras pesquisas, como análises moleculares e a extração de DNA, permitindo uma melhor compreensão das interações ambientais e do comportamento das abelhas na região.
Além disso, mais de 100 colônias foram instaladas no refúgio, utilizando técnicas de manejo sustentável, como a divisão de colônias. Essa prática ajuda a ampliar as populações de abelhas e pode beneficiar projetos ambientais e sociais, como o Poliniza Paraná, que utiliza abelhas nativas em praças e escolas.
Educação ambiental e impactos na biodiversidade
O projeto também promoveu ações de educação ambiental, destacando a importância das abelhas-sem-ferrão na manutenção de ecossistemas. Um exemplo curioso é a relação entre essas abelhas e a harpia, uma ave de rapina. As abelhas auxiliam na limpeza das narinas da harpia, prevenindo infecções e promovendo sua saúde.
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Além disso, as caixas de abelhas registram uma linha cronológica das espécies vegetais da região. O pólen coletado pelas abelhas pode revelar informações sobre a flora local e possíveis contaminações ambientais, servindo como ferramenta de monitoramento ambiental.
Entre as espécies catalogadas estão:
- Borá (Tetragona clavipes)
- Jataí (Tetragonisca fiebrigi)
- Guiruçu (Schwarziana quadripunctata)
- Canudo (Scaptotrigona depilis)
- Arapuá (Trigona spinipes)
- Mirim Droryana (Plebeia droryana)
- Mirim Nigriceps (Plebeia nigriceps)
O futuro da conservação e da meliponicultura
O estudo reforça a importância de iniciativas de manejo sustentável para a preservação das abelhas nativas, que desempenham papel fundamental na polinização e na manutenção da biodiversidade. Além disso, a meliponicultura abre oportunidades de geração de renda, já que o mel produzido por essas abelhas pode alcançar valores até dez vezes superiores ao mel tradicional.
Com dados robustos e contribuições significativas, o Refúgio Biológico Bela Vista se consolida como um espaço de referência para estudos sobre abelhas-sem-ferrão, servindo de modelo para iniciativas de conservação em outras regiões do Brasil.