As sucuris, também conhecidas como anacondas, são as maiores serpentes do mundo em termos de massa. Com registros que podem ultrapassar os sete metros de comprimento, essas impressionantes criaturas despertam fascínio e medo, inspirando lendas e obras de ficção. Muitas dessas histórias exageram suas dimensões ou especulam sobre a capacidade das sucuris de se alimentarem de grandes animais, como bois. Mas o que realmente sabemos sobre esses gigantes da natureza?
As sucuris pertencem ao gênero Eunectes, que faz parte da família Boidae, a mesma que inclui jiboias e periquitamboias. Esse gênero abrange quatro espécies reconhecidas, sendo três delas encontradas no Brasil: a sucuri-verde (Eunectes murinus), a sucuri-amarela (Eunectes notaeus) e a sucuri-malhada (Eunectes deschauenseii). A sucuri-verde é a maior entre elas, podendo atingir até 11 metros em condições ideais, embora espécimes maiores sejam raros e frequentemente não confirmados.
As sucuris são reconhecidas por seus corpos musculosos e robustos. A maior sucuri já registrada tinha cerca de sete metros, mas relatos não confirmados mencionam indivíduos ainda maiores. Daniel Stuginski, técnico do Laboratório de Herpetologia do Instituto Butantan, afirma: “Sucuris grandes, com mais de cinco ou seis metros, são animais raros de serem encontrados. Demora uns bons anos para que, na natureza, um animal atinja esse tamanho.” Essa característica associa as sucuris à força e ao poder na cultura popular.
Hábitos e alimentação
Essas serpentes possuem hábitos semi-aquáticos e são frequentemente encontradas em margens de rios, lagos e pântanos. Seus olhos e narinas estão posicionados no topo da cabeça, o que facilita a respiração enquanto nadam. As sucuris caçam por espreita, utilizando sua força para imobilizar suas presas através da constrição. Elas se alimentam principalmente de vertebrados como jacarés, capivaras e até antas jovens.
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“Por serem oportunistas e caçarem por espreita, as sucuris não se alimentam com frequência. Uma sucuri adulta pode passar um ano fazendo apenas três ou quatro grandes refeições”, explica Stuginski. Essa adaptação é possível devido às suas baixas taxas metabólicas, permitindo que economizem energia entre as refeições.
Mitos e realidade
Apesar das lendas sobre ataques a humanos, esses eventos são extremamente raros. “Montagens e fotos em diferentes perspectivas endossam a ideia de que essas serpentes se alimentam de seres humanos”, comenta Stuginski. Embora algumas sucuris possam ser grandes o suficiente para predar um humano adulto, isso não faz parte de sua dieta habitual. Na verdade, os humanos são os principais predadores dessas serpentes, muitas vezes devido ao medo infundado por representações na mídia.
A percepção pública sobre as sucuris é frequentemente distorcida por mitos que retratam essas serpentes como monstros vorazes. No entanto, especialistas ressaltam que elas desempenham um papel crucial nos ecossistemas aquáticos onde habitam. As sucuris ajudam a controlar populações de presas e contribuem para o equilíbrio ecológico.
O filme Anaconda reforçou para o mundo esse mito da cobra que devora humanos. O sucesso no cinema da produção americana, que vai ganhar um novo filme incluindo o ator Selton Melo no elenco, criou no imaginário popular a “cobra ninja”. Predadora voraz e rápida atacando tudo em seu caminho. Bem longe da realidade, mas ajudou a criar a mitologia.
Nova espécie de sucuri verde
Até agora, acreditava-se que existia apenas uma espécie de sucuri-verde, a Eunectes murinus, também chamada de anaconda verde do sul. Essa espécie habita regiões do Peru, Bolívia, Guiana Francesa e Brasil. No entanto, a publicação na revista científica Diversity apresenta a descoberta da nova espécie, batizada de Eunectes akiyama, destacando diferenças genéticas entre as duas.
O professor Miguel Trefaut Urbano Rodrigues, do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP), explica que as semelhanças morfológicas entre as duas espécies tornam difícil a separação entre elas. “Vários caracteres, como o número de escamas ventrais e dorsais, dificultam a identificação precisa”, afirma o docente. No entanto, análises genéticas mostraram uma diferença significativa de 5,5% entre as duas espécies — uma disparidade maior do que a diferença genética entre humanos e chimpanzés.
Descoberta em expedição na Amazônia
Cientistas identificaram a nova espécie durante uma expedição na Amazônia equatoriana liderada pelo cientista e apresentador de televisão Freek Vonk. Ele descreveu a descoberta como um marco importante: “Junto com outros 14 cientistas de nove países, descrevi uma nova espécie de cobra da Amazônia que pode ser a maior do mundo”, comentou em suas redes sociais. A Eunectes akiyama habita regiões como Equador, Colômbia, Venezuela e Guiana Francesa.
Ainda não estão claros os limites de distribuição entre as duas espécies de sucuri-verde, especialmente nas áreas ao norte da Amazônia. “Não se sabe se elas se encontram ou se ocorre hibridização entre elas”, alerta Rodrigues. A pesquisa destaca a necessidade de mais estudos para entender melhor a distribuição geográfica e as características genéticas das sucuris na região.
A descoberta da nova espécie ressalta a urgência em proteger o habitat natural das sucuris. A Amazônia enfrenta sérias ameaças devido ao desmatamento e às mudanças climáticas, com mais de um quinto da floresta já desaparecido. Bryan Fry, biólogo da Universidade de Queensland e coautor do estudo sobre a nova espécie, enfatiza que “a viabilidade reprodutiva dessas cobras é um indicador crucial da saúde do ecossistema”.
Além disso, Fry alertou que as anacondas enfrentam riscos adicionais devido à contaminação por metais pesados acumulados ao longo da cadeia alimentar. Essa situação pode afetar drasticamente a saúde das populações dessas serpentes e outros animais no topo da cadeia alimentar.
Conservação
A conservação das sucuris é vital não apenas para o equilíbrio ambiental, mas também para desmistificar os preconceitos que cercam esses magníficos animais. A destruição dos habitats naturais devido à urbanização e à agricultura intensiva representa uma ameaça significativa para essas serpentes. Organizações ambientais estão trabalhando para proteger os ecossistemas onde as sucuris vivem, promovendo a conscientização sobre sua importância ecológica.
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As sucuris representam um fascinante exemplo da biodiversidade sul-americana. Embora sejam criaturas imponentes e frequentemente mal compreendidas, elas desempenham um papel essencial nos ecossistemas aquáticos. A preservação dessas serpentes é crucial para garantir a saúde dos ambientes em que vivem e para promover uma compreensão mais profunda sobre esses incríveis animais entre as comunidades locais e o público em geral. Ao educar as pessoas sobre a verdadeira natureza das sucuris, podemos ajudar a reduzir o medo e promover uma coexistência mais harmoniosa entre humanos e vida selvagem.