A BRS Guatã, nova cultivar de feijão guandu desenvolvida pela Embrapa, surge como uma solução inovadora para os desafios da agricultura e pecuária brasileiras. Com benefícios que vão desde o combate a nematoides até o fortalecimento da sustentabilidade em sistemas produtivos, a BRS Guatã é uma aliada estratégica para produtores rurais, especialmente nas regiões Sudeste e Centro-Oeste.
Os nematoides, parasitas microscópicos que atacam culturas agrícolas de grande relevância econômica, como soja, cana-de-açúcar e feijão, geram prejuízos anuais de R$ 35 bilhões, segundo a Sociedade Brasileira de Nematologia (SBN). A BRS Guatã apresenta resistência a quatro espécies desses parasitas: Pratylenchus brachyurus, P. zeae, Meloidogyne javanica e M. incógnita.
Esses vermes, ao invadirem o sistema radicular das plantas, comprometem o crescimento, a produtividade e a saúde da lavoura, além de injetarem toxinas que podem chegar às folhas, flores e frutos. A BRS Guatã interrompe o ciclo de vida desses organismos ao impedir sua multiplicação, protegendo o solo e promovendo a saúde das culturas.
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O pesquisador aposentado da Embrapa, Rodolfo Godoy, responsável pelo desenvolvimento da cultivar, destaca que a eficácia contra nematoides é o principal diferencial da BRS Guatã. “Foram anos de trabalho até chegarmos a essa cultivar. Além de controlar os nematoides, ela oferece benefícios como descompactação do solo, alimentação animal e cobertura vegetal, o que a torna uma solução completa para os produtores”, explica.
Um aliado sustentável para a pecuária
Com teor de proteína de aproximadamente 15%, a nova cultivar de feijão guandu é uma alternativa econômica e eficiente para suplementação volumosa de bovinos durante o período seco, quando a oferta de forragem é limitada. A leguminosa não apenas melhora a nutrição animal, como também aumenta a taxa de lotação por hectare, contribuindo para maior ganho de peso e produtividade do rebanho.
Além disso, sua alta capacidade de fixação de nitrogênio no solo reduz a necessidade de fertilizantes químicos, tornando o cultivo mais sustentável e menos dependente de insumos externos. Em condições de sequeiro, a BRS Guatã produziu três toneladas de massa seca por hectare, desempenho praticamente igual ao obtido em condições irrigadas, demonstrando resiliência ao déficit hídrico – uma característica valiosa diante das mudanças climáticas.
A adubação verde é outro ponto forte da BRS Guatã. A leguminosa pode fornecer entre 80 e 120 kg de nitrogênio por hectare. Além de reciclar nutrientes essenciais, como fósforo, potássio e micronutrientes, por meio da decomposição de sua biomassa. Essa ciclagem de nutrientes melhora a fertilidade do solo, beneficia culturas subsequentes e promove a sustentabilidade dos sistemas agrícolas.
De acordo com a pesquisadora Patrícia Anchão Oliveira, a BRS Guatã é uma excelente opção para cobertura morta e rotação de culturas. “Essa leguminosa se adapta bem a diferentes condições de cultivo e contribui para a preservação do solo, reduzindo erosões e aumentando a retenção de umidade. Sua tolerância ao déficit hídrico a torna uma escolha estratégica em regiões sujeitas à escassez de chuvas”, afirma.
Inovação no ciclo vegetativo e manejo de feijão guandu
A BRS Guatã se diferencia por seu ciclo vegetativo mais curto, florescendo cerca de 30 dias antes de outras variedades como a BRS Mandarim. Essa característica acelera a disponibilidade de forragem e permite maior flexibilidade no manejo agrícola.
O pesquisador Frederico de Pina Matta, da Embrapa, destaca também o porte intermediário e os caules mais finos da planta, que facilitam os tratos culturais. A variedade é ainda resistente a doenças como a ferrugem asiática (Phakopsora pachyrhizi) e apresenta moderada resistência ao fungo Macrophomina phaseolina, causador da podridão do caule.
A BRS Guatã integra-se perfeitamente a sistemas agrícolas diversificados, podendo ser usada como planta de proteção e sombreamento para culturas como café e frutíferas. Além disso, sua biomassa contribui para a cobertura do solo, protegendo-o contra a erosão e promovendo a retenção de água.
Outro destaque é sua aplicação na reforma de canaviais. Ademilson Facholli, presidente da Unipasto e produtor de sementes, afirma que a BRS Guatã possui alta aceitação nesse segmento. “O material é muito promissor, especialmente em sistemas integrados que buscam conciliar produtividade e preservação ambiental. Temos um estoque inicial de 50 toneladas, mas a expectativa é expandir a produção para atender à demanda crescente”, afirma.
Alinhada aos objetivos de desenvolvimento sustentável
A BRS Guatã reflete o compromisso da Embrapa com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), promovendo a segurança alimentar, a adaptação às mudanças climáticas e a redução da emissão de gases de efeito estufa. Sua capacidade de fixação de nitrogênio reduz a dependência de fertilizantes nitrogenados, cuja produção é altamente emissora de carbono.
Em um cenário de aumento das secas e eventos climáticos extremos, a alta tolerância da cultivar ao déficit hídrico é um fator decisivo para a resiliência da agricultura e pecuária brasileiras.
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A BRS Guatã deve ser plantada entre setembro e março, com espaçamento de 0,5 a 0,8 metros entre as linhas, dependendo do manejo desejado. É fundamental realizar análise de solo para ajustes de correção e adubação, garantindo o máximo desempenho da cultura de feijão guandu.
Micronutrientes como o molibdênio, essencial para a fixação de nitrogênio, devem ser monitorados em solos com pH elevado. Recomenda-se ainda análise foliar no início do florescimento para detectar possíveis deficiências nutricionais.
Disponibilidade no mercado
As sementes da BRS Guatã já estão disponíveis por meio de empresas parceiras da Unipasto, com expansão prevista para atender à crescente demanda. Segundo Marcos Roveri José, gerente executivo da associação, a nova cultivar é uma opção atrativa para produtores que buscam reduzir custos e aumentar a eficiência em suas operações.
“A BRS Guatã combina vantagens econômicas, ambientais e produtivas, tornando-se uma ferramenta indispensável para a agropecuária sustentável. Sua versatilidade atende desde o controle de nematoides até a recuperação de áreas degradadas e a suplementação animal durante períodos críticos”, conclui Roveri.
Com uma ampla gama de aplicações e benefícios, a BRS Guatã consolida-se como um marco na inovação agrícola brasileira. E representa um avanço significativo em produtividade e sustentabilidade para os sistemas de produção.