A introdução de uma Unidade de Referência Tecnológica (URT) para o manejo sustentável de açaizais nativos está promovendo uma transformação significativa na produção de açaí em terras altas na região do Alto Turí/Gurupi, Amapá do Maranhão. Essa área, que abrange 13 municípios e representa 66% do açaí comercializado no estado, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), enfrenta desafios devido à degradação dos açaizais locais.
Liderado pela Embrapa Cocais (MA), o projeto visa reverter os efeitos da degradação ambiental causada pela falta de manejo adequado. A equipe do projeto enfrentou o desafio de adaptar a tecnologia de manejo de açaí, historicamente voltada para áreas de várzea, para os açaizais que predominam em terras altas da Pré-Amazônia Maranhense. A degradação resultante da exploração madeireira e do avanço das pastagens impactou negativamente a produtividade das palmeiras nativas.
A instalação da URT foi precedida por um estudo que determinou o local mais adequado para sua implementação, considerando que o açaí é encontrado na maioria dos municípios da região. A alta demanda pelo fruto, especialmente durante a entressafra do Pará, tornou a recuperação desses açaizais uma prioridade econômica e ambiental.
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O projeto inclui capacitações práticas para técnicos e extrativistas. Em uma área inicial de 0,25 hectare, os participantes aprenderam técnicas de limpeza do terreno, inventário de espécies e elaboração de planos de manejo que envolvem a seleção e o corte de touceiras para aumentar a produtividade.
O agricultor familiar Lauro Paiva se destacou ao implementar as práticas em sua propriedade. E assim, se tornar um multiplicador da tecnologia, atraindo outros produtores interessados em replicar o modelo. Ele ampliou sua área cultivada para 7 hectares.
Restauração ambiental
Além da recuperação da produtividade dos açaizais, o projeto promove ações de restauração ambiental. Um viveiro foi criado com sementes coletadas na área manejada, com o objetivo de produzir cerca de 4 mil mudas de espécies florestais nativas. E assim, proteger as bordas da área manejada e atender outros produtores interessados em restauração florestal.
A equipe também buscou parcerias institucionais nas esferas municipal e estadual, integrando as atividades das secretarias municipais de agricultura e do órgão estadual de extensão rural ao trabalho da URT.
José Mário Frazão, pesquisador da Embrapa Cocais, destacou que Lauro Paiva se tornou uma referência na divulgação das práticas adotadas pela Embrapa na região. Agricultores relataram que, se tivessem conhecido essa tecnologia antes, não teriam transformado áreas de açaizais degradados em pastagens.
Com vigência até 2025, espera-se que os aprendizados dessa URT sirvam como base para publicações científicas e para a replicação da tecnologia em outras regiões. O manejo sustentável do açaí se consolida como uma alternativa viável para geração de renda e conservação ambiental na Amazônia Maranhense.
Em janeiro de 2025, a comunidade do Maracanã receberá capacitação voltada para o manejo e boas práticas no processamento de açaí. Essa iniciativa é fruto da parceria entre a Embrapa e o Instituto de Formação, que está auxiliando na seleção dos produtores participantes. O projeto inclui acompanhamento técnico contínuo e busca engajar os agricultores locais, formalizando um acordo que destaca a importância do compromisso de longo prazo.