A Embrapa Agroenergia, em Brasília, firmou parceria com a empresa Advanta Seeds. Juntas, vão desenvolver os primeiros híbridos tropicais de canola adaptados ao Brasil. Ou seja, a iniciativa pode transformar a produção da cultura no País. Ela abre oportunidades para produtores na segunda safra e atende à demanda crescente por óleo vegetal e biocombustíveis.
O acordo originou o projeto BRSCanola, que busca criar cultivares híbridas com alto desempenho agronômico. Elas terão resistência a doenças, tolerância a herbicidas e adaptação ao clima tropical do Centro-Sul. A canola já está presente no Sul do Brasil, mas depende de sementes importadas da Austrália. O novo projeto tem duração de dois anos e integra iniciativas voltadas à produção sustentável.
Segundo o pesquisador Bruno Laviola, coordenador do projeto, os esforços em pesquisa e inovação fortalecem a cadeia produtiva da canola brasileira. “Vamos unir o conhecimento da Embrapa ao da Advanta, que tem linhagens elite, para gerar cultivares adaptadas ao nosso clima”, afirma Laviola. Ele destaca que o Brasil ainda não possui cultivares comerciais próprias. Por isso, existe potencial para aumentar a produtividade e reduzir a dependência externa. Além disso, os híbridos tropicais serão mais tolerantes às mudanças climáticas, como altas temperaturas e déficit hídrico.
Linhagens brasileiras e australianas serão cruzadas
O projeto cruza linhagens da Embrapa com materiais da Advanta, desenvolvidos na Austrália. Os testes vão ocorrer em campo e em casa de vegetação. Em resumo, a pesquisa avaliará tolerância ao estresse hídrico, qualidade dos grãos e resistência a doenças como canela preta, mofo branco e mancha de Alternaria.
A Advanta contribuirá com materiais genéticos de 40 anos de melhoramento tradicional. Essa colaboração preenche uma lacuna crítica no cultivo da canola tropical. Para Ana Luiza Scavone de Camargo, da Advanta, a união das duas instituições vai acelerar o desenvolvimento de materiais mais produtivos e resilientes. A Fundação Arthur Bernardes (Funarbe) dará suporte administrativo e financeiro ao projeto.
Brasil mira protagonismo global em bioeconomia
Laviola acredita que os híbridos tropicais vão posicionar o Brasil como líder da bioeconomia global. O foco é aplicar ciência com resultados concretos. “Queremos beneficiar o produtor, a indústria de alimentos e o setor de biocombustíveis”, reforça o pesquisador.
A área plantada de canola saltou de 40 mil hectares em 2021 para 250 mil hectares em 2024. A projeção é alcançar 350 mil hectares em 2026. Esse crescimento está atrelado às políticas públicas que incentivam o uso de biocombustíveis, como Biodiesel, SAF e Diesel Renovável.
A produtividade ainda precisa melhorar. Para isso, são necessárias cultivares mais adaptadas e o uso de tecnologias sustentáveis.
Canola cresce como opção de segunda safra
A canola se consolida como alternativa para rotação de culturas na segunda safra, principalmente no Cerrado. Com ciclo curto e boa adaptação ao clima ameno, a cultura pode ser semeada logo após a soja, otimizando o uso da terra. Laviola destaca o papel da canola na sustentabilidade agrícola. “Ela melhora o solo, quebra ciclos de doenças e gera grãos valiosos para alimentos e biocombustíveis”, explica.
Estudos mostram que até 20% da área de segunda safra com soja pode ser ocupada pela canola, sem abrir novas áreas agrícolas. Regiões subutilizadas no outono/inverno no Centro-Oeste, Sudeste e Sul têm grande potencial para cultivo. Com híbridos tropicais mais produtivos, o Brasil pode ampliar a oferta de óleo vegetal e avançar na produção de SAF e biodiesel.
Projetos integram pesquisa e desenvolvimento
O projeto SAFCanola, voltado ao combustível sustentável de aviação, selecionou linhagens tropicais com produtividade semelhante a híbridos comerciais.
Essas linhagens formaram a base para o BRSCanola. No Sul, a cultura recebe água ao longo do ciclo. Já no Cerrado, há restrição hídrica na metade final. Para enfrentar esse desafio, SAFCanola desenvolveu estratégias com adubação nitrogenada e bioinsumos. As soluções incluem microrganismos que fixam nitrogênio e reduzem o estresse hídrico. Essas práticas visam sistemas mais sustentáveis, com menor emissão de carbono.
Outro projeto, o RedeCanola, também liderado por Laviola, promove o desenvolvimento da canola em regiões tropicais. A iniciativa testa cultivares, sistemas de manejo, zoneamento agrícola e métricas de sustentabilidade. As atividades ocorrem em Unidades de Referência Tecnológica em Mato Grosso.
Foram avaliados aspectos como ciclo da planta, impacto econômico e emissão de carbono. Os dados vão embasar o Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC Canola 3.0).
Dados, cursos e aplicativos fortalecem a cadeia produtiva
A RedeCanola também capacita produtores com cursos online, como o “Produção Sustentável de Canola”, e ferramentas digitais, como o App Mais Canola.
Além disso, o projeto avaliou 18 híbridos em 14 municípios de sete estados. Os dados ajudarão na seleção de cultivares e regiões mais promissoras. “Queremos tornar a canola mais um exemplo de tropicalização bem-sucedida no Brasil”, conclui Laviola. Ele ressalta que o País já é referência em agricultura tropical e deve ampliar essa liderança com a nova canola híbrida tropical.
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