Resumo da notícia
- A cultivar Fênix, desenvolvida pela Embrapa, dobrou a produção de mudas em dois anos, reduzindo a dependência de importações e oferecendo mudas nacionais de qualidade e preço acessível.
 - O número de viveiristas licenciados para multiplicar a Fênix cresceu de 18 em 2023 para 36 em 2025, com produção que deve ultrapassar 10 milhões de mudas em 2026.
 - A Fênix é precoce, produtiva e resistente, com colheita antecipada que aumenta a rentabilidade do produtor, além de sabor e durabilidade que agradam consumidores.
 - A produção está concentrada no Sul e Sudeste, com destaque para RS, PR, SP e MG, e a cultivar contribui para a soberania nacional na produção de mudas de morango.
 
Em apenas dois anos, a cultivar Fênix consolidou seu avanço no mercado nacional de morangos. Desenvolvida pela Embrapa Clima Temperado, a variedade dobrou a produção de mudas e reduziu a dependência de importações.
Quando foi lançada, em 2023, apenas 18 viveiristas licenciados multiplicavam a Fênix. Em 2024, o número subiu para 22. Agora, em 2025, são 14 novos contratos formalizados, confirmando o interesse crescente pela tecnologia. A produção saltou de 2,5 milhões para mais de 5 milhões de mudas, e a expectativa é ultrapassar 10 milhões em 2026.
Segundo o pesquisador Sandro Bonow, da Embrapa Clima Temperado, o crescimento se explica pela falta de cultivares nacionais acessíveis. “A Embrapa veio contribuir para mudar esse cenário, oferecendo uma cultivar com qualidade e preço justo. Hoje, o produtor tem acesso à muda certa, na época ideal para o plantio”, explica.
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Redução da dependência externa e custo mais competitivo
Atualmente, cerca de 98% dos morangos produzidos no Brasil vêm de cultivares estrangeiras, principalmente dos Estados Unidos. As mudas, em grande parte, são importadas do Chile, Argentina e Espanha, com preços entre R$ 2,30 e R$ 3,60, cotados em dólar.
Com a Fênix, esse cenário começa a mudar. O custo das mudas nacionais varia conforme o nível tecnológico do viveiro e o tipo de muda (fresca ou envasada), mas o valor é mais acessível e as entregas ocorrem no período ideal para o plantio em cada região.
“A Fênix é precoce e permite ao produtor colher antes do pico da safra, aumentando os lucros”, afirma Bonow.
Alta produtividade e aceitação no mercado
A cultivar Fênix se destaca pela precocidade, produtividade e excelente conservação pós-colheita, o que garante maior durabilidade nas prateleiras. “Ela caiu no gosto do consumidor. É saborosa, tem bom calibre, equilíbrio entre açúcar e acidez, aroma marcante e cor intensa”, ressalta Bonow.
O rendimento pode chegar a 1,6 kg por planta, em cultivo tradicional sob túnel baixo, e a 900 g em sistema semi-hidropônico. O plantio entre março e abril permite iniciar a colheita em maio, com safra que pode durar até sete meses.
“O fato de a cultivar ser precoce e resistente permite ao produtor antecipar a colheita e aproveitar melhores preços”, explica o pesquisador Luís Eduardo Antunes. “A combinação entre qualidade, precocidade e resiliência faz da Fênix uma aliada para a soberania nacional na produção de mudas.”
Expansão nacional e interesse internacional
Apresentada ao público durante a Expointer 2023, a cultivar Fênix teve início com 20 mil matrizes, gerando 2,5 milhões de mudas. Em 2025, a produção supera 5 milhões de unidades por ano, concentradas no Sul e Sudeste, com destaque para Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo e Minas Gerais.
Antunes projeta alcançar 10 milhões de mudas em 2026, impulsionado pela adesão de novos produtores. “Um hectare comporta cerca de 50 mil mudas. Com 7 mil hectares de morango no país, o potencial é de 350 milhões de mudas por ano”, exemplifica.
Atualmente, cerca de 70 milhões de mudas ainda são importadas anualmente, mas a Fênix vem ganhando espaço. “Empresários europeus já demonstraram interesse em levar a genética brasileira para países do Mediterrâneo, afetados pelas mudanças climáticas”, afirma Antunes.
Programa de melhoramento genético retomado
O programa de melhoramento do morangueiro da Embrapa foi retomado em 2010, após uma pausa nos anos 1990. O foco passou a ser o desenvolvimento de cultivares adaptadas ao clima brasileiro, resistentes a pragas e com qualidade superior.
A equipe iniciou o trabalho com a formação de um banco genético e testes em diversas regiões do país. O resultado foi a BRS Fênix, primeira cultivar comercial dessa nova fase do programa.
Inicialmente recomendada para o Sul e Sudeste, a Fênix recebeu em 2025 a aprovação do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) para cultivo também em Brazlândia (DF). Pesquisas em andamento avaliam sua adaptação a novas regiões, como a Chapada Diamantina (BA).
Produtores confirmam desempenho no campo

O casal Darceli e Ilóivia Chassot, de Cerro Largo (RS), participa do projeto da Embrapa desde o início. Eles cultivam 12 mil mudas de morangueiro na propriedade e afirmam que a Fênix superou expectativas.
“Testamos a cultivar no sistema fora do solo e tivemos 100% de pegamento das mudas. O florescimento começou em 45 dias, e as frutas mantiveram tamanho e sabor estáveis durante toda a safra”, relatam.
Com os bons resultados, o casal decidiu trabalhar apenas com a Fênix. “Mesmo com variações de temperatura, ela mantém o calibre, a firmeza e a qualidade dos morangos. É precoce e resistente”, destacam.
Atibaia transforma a Fênix em símbolo local
Em Atibaia (SP), a cultivar Fênix virou referência entre os produtores e ganhou apoio do poder público. A Prefeitura firmou parceria com a Embrapa, adquirindo matrizes para o Viveiro Municipal.
“O município já produziu cerca de 400 mil mudas em 2025, distribuídas aos produtores locais”, explica o engenheiro agrônomo Marco Albertini. “Ampliamos o viveiro e despertamos o interesse de novos agricultores.”
O produtor José Roque Doratioto, do Sítio Serrano, cultiva cinco alqueires de morango e destaca o desempenho da Fênix. “A produtividade é alta, o sabor é intenso e a durabilidade excelente. Só é preciso combater a pirataria de mudas”, alerta.
Albertini reforça que a procura cresce a cada safra. “Mesmo fora do período de distribuição, os produtores já estão reservando mudas para 2026”, afirma.
Fênix: símbolo da nova fase do morango nacional
Com alta produtividade, sabor marcante e boa adaptação ao clima brasileiro, a cultivar Fênix representa uma nova era para o morangueiro nacional.
A variedade reduz a dependência externa, estimula a produção local e impulsiona o desenvolvimento tecnológico no campo. Para os pesquisadores da Embrapa, a Fênix é mais que uma cultivar — é um passo firme rumo à autossuficiência brasileira na produção de mudas de morango.