O Brasil firmou um acordo histórico com a China para exportação de sorgo, abrindo uma nova fronteira no agronegócio nacional. A Associação Brasileira dos Produtores de Milho e Sorgo (Abramilho) projeta iniciar as vendas na safra que será colhida a partir de junho de 2025, marcando o fim da dependência exclusiva do mercado interno.

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Até agora, o país destinava toda sua produção de sorgo ao consumo doméstico. O cereal alimentava principalmente o gado e, mais recentemente, impulsionava a produção de biocombustíveis. Agora, produtores brasileiros podem acessar um mercado chinês que movimenta cifras bilionárias.

No caso do sorgo, a China importou US$ 1,83 bilhão no último ano, sendo a maior parte proveniente dos Estados Unidos, enquanto o Brasil contribuiu com apenas 0,29% do volume global. O acordo representa uma oportunidade de crescimento exponencial para o setor.

Mercado chinês pode absorver 81% da demanda mundial

A China demonstra apetite voraz por sorgo. Dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) revelam que o país asiático pode demandar até 7,9 milhões de toneladas por ano. Este volume representa impressionantes 81% de toda a demanda mundial do cereal.

Lucas Sleutjes Silveira, engenheiro agrônomo e gerente de portfólio de sorgo para as Américas da Advanta Seeds, explica o cenário. “Já tivemos a assinatura do acordo comercial com os chineses. O próximo passo é ajustar questões fitossanitárias, critérios de qualidade para exportação, precificação futura e a organização das tradings”, afirma.

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Ministro Carlos Fávaro destaca potencial de comércio de US$ 450 milhões por ano com os novos mercados conquistados na China, incluindo o sorgo.

Brasil já ocupa terceiro lugar mundial na produção

O país consolidou sua posição no cenário global. O Brasil, que já produziu 5 milhões de toneladas em 2024/25 e se consolidou como o terceiro maior produtor mundial, surge como candidato natural para ocupar parte desse espaço.

Foto: Sandra Brito/Embrapa

Currently, os Estados Unidos lideram as exportações globais com 5,4 milhões de toneladas (55% do mercado). A Austrália ocupa a segunda posição com 2,6 milhões de toneladas (27%), seguida pela Argentina com 1,4 milhão de toneladas (14%).

Tensões geopolíticas favorecem Brasil

As relações comerciais tensas entre Estados Unidos e China criam uma janela de oportunidade para produtores brasileiros. Silveira observa que “com os entraves geopolíticos atuais e a relação não tão amistosa entre Estados Unidos e China, há espaço para movimentar o mercado de importações e exportações”.

O especialista também identifica sinais favoráveis no mercado norte-americano. “Já se observa pequena redução da área plantada de sorgo nos EUA na safra 2025/26, o que pode abrir oportunidades para outros países, inclusive o Brasil”, detalha.

Sorgo ganha força como alternativa sustentável

O cereal se destaca por características que favorecem a agricultura nacional. A cultura adapta-se bem a climas mais quentes e demanda menos água para completar seu ciclo produtivo. Estas características fazem do sorgo uma alternativa eficiente para a safrinha, especialmente em cenários de mudanças climáticas.

“A partir de meados de fevereiro, o sorgo se apresenta como uma excelente alternativa ao milho, contribuindo para a diversificação da produção e trazendo incremento de rentabilidade”, destaca Silveira. O especialista ressalta que, no fechamento do plantio da safrinha, o sorgo frequentemente supera o milho em termos econômicos.

Preparação técnica será fundamental

O sucesso nas exportações exigirá preparação técnica dos produtores. Silveira enfatiza que “é necessário aumentar a eficiência e se preparar para aproveitar essas oportunidades”.

O planejamento agrícola precisa considerar a rotação de culturas como fator crucial. “É preciso pensar no ciclo agrícola como um todo, em que a rotação de culturas é um fator crucial para um manejo mais eficiente, garantindo que cada cultura seja plantada na janela ideal”, explica.

Inicialmente, a tendência é de volumes pequenos, mas a associação vê amplo potencial de exportação de sorgo brasileiro, dado que a China representa o maior mercado importador mundial do cereal.