Aplicativo rastreia peixes desde a captura até o consumidor. Projeto beneficia 55 manejadores e deve ampliar renda de 180 pessoas em comunidades ribeirinhas
Foto: Rodolfo Pongelupe

O maior peixe de água doce da Amazônia enfrenta um novo desafio, desta vez, positivo. Depois de superar a ameaça de extinção pela pesca predatória nos anos 1990, o pirarucu agora protagoniza uma revolução tecnológica que promete agregar valor à cadeia produtiva e aumentar a renda das comunidades ribeirinhas.

CONTINUA APÓS A PUBLICIDADE

A Fundação Amazônia Sustentável (FAS) lançou o projeto “Sistema de Rastreabilidade: Inovação e Inteligência de Mercado na Cadeia Produtiva do Pirarucu da RDS Mamirauá”. A iniciativa combina tecnologia blockchain, infraestrutura física e novos canais de comercialização para fortalecer a sociobioeconomia amazônica.

Blockchain garante rastreabilidade total do pescado

O projeto traz três pilares inovadores. Primeiro, a FAS implementa blockchain para assegurar a procedência do pescado, com dados que o aplicativo Gygas coleta diretamente nas comunidades. Segundo, a organização constrói um flutuante de pré-beneficiamento na comunidade Santa Luzia do Jussara. Terceiro, a equipe cria a marca Gigantio, focada em estratégias de comercialização do filé de pirarucu.

O investimento total alcança R$ 3,5 milhões. O aplicativo Gygas funciona mesmo em áreas de baixa conectividade e rastreia completamente o pirarucu — tanto a carne quanto a pele. A tecnologia blockchain assegura transparência e confiabilidade em toda a cadeia produtiva.

O “CPF do pescado” substitui cadernos vulneráveis

Na prática, o sistema funciona como um “caderno digital de dados” que registra cada fase do manejo, desde a captura nos lagos até a chegada ao consumidor final. A plataforma conecta esses registros, criptografa-os em sequência e impede alterações. No final, cada pirarucu recebe um QR Code único — o “CPF do pescado”.

CONTINUA APÓS A PUBLICIDADE

“É uma ferramenta que fortalece a sociobioeconomia e dá mais visibilidade ao trabalho das comunidades ribeirinhas e indígenas, mostrando ao mundo que é possível conservar a floresta e gerar renda de forma sustentável”, explica Wildney Mourão, gerente de Empreendedorismo e Negócios Sustentáveis da FAS.

Comunidades abandonam planilhas de papel

O Ibama regulamenta o manejo do pirarucu e autoriza a pesca de até 30% da população adulta por meio de cotas anuais. Para cumprir essa exigência, os comunitários já precisavam registrar e comprovar todos os dados da atividade.

Antes, os manejadores anotavam informações como peso, comprimento, sexo e lago de origem em planilhas vulneráveis a rasuras, perdas ou danos pela umidade. Denilson dos Santos, jovem manejador e morador da comunidade ribeirinha, relata a transformação: “Com a novidade, ficou melhor do que quando a gente usava o caderno. Antes tinha o risco de molhar, porque tudo ficava junto à evisceração do peixe”.

O aplicativo torna o processo mais ágil e confiável. A tecnologia gera automaticamente relatórios que facilitam a emissão dos documentos de legalização, assegurando a rastreabilidade e a conformidade do manejo sustentável.

A FAS construiu o sistema com base em um princípio central: escutar quem diariamente lida com o manejo do pirarucu. “As comunidades já possuem seus próprios sistemas de manejo, que são métodos tradicionais. Nosso papel foi traduzir isso em uma solução digital que respeita essa lógica, ao mesmo tempo em que facilita processos, gera mais segurança e valoriza o trabalho da comunidade”, explica Matheus Vinícius, desenvolvedor de tecnologia da FAS.

Impacto social atinge 180 pessoas em três comunidades

O projeto beneficia diretamente 55 manejadores de pirarucu em três comunidades: Mangueira, Catiti e Jussara. A previsão indica ampliação da renda de 45 famílias, cerca de 180 pessoas, além da geração de 15 novos empregos.

Foto: Rodolfo Pongelupe

Os manejadores atuam na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, formando uma ampla rede de atores sociais cuja economia e cultura se ligam profundamente à pesca. A atividade responde por mais de 70% da produção de pirarucu no Amazonas e, dentro da reserva, o peixe representa a principal fonte de renda para as famílias ribeirinhas.

“O sistema é um marco para transformar desafios históricos em oportunidades, unindo qualidade, transparência e protagonismo comunitário”, destaca Valcleia Lima, superintendente adjunta da FAS.

Pele de pirarucu conquista mercado de moda e design

O projeto também amplia a presença do pirarucu no mercado gastronômico. O Gigantio conectará associações e cooperativas comunitárias da Amazônia a chefs, restaurantes e hotéis de referência em todo o Brasil. A pele do peixe, por sua vez, ganha oportunidade de valorização em produtos de moda e design de alto valor agregado, criando novas frentes de negócio.

Foto: Rodolfo Pongelupe

“Isso é inteligência de mercado: uma estratégia que garante origem, eficiência e agrega valor ao pirarucu de manejo sustentável, promovendo iniciativas inovadoras como o Gigantio, clube de assinatura que comercializará o peixe diretamente com o setor gastronômico e hoteleiro de forma mais justa e responsável”, detalha Mourão.

Positivo Tecnologia apoia bioeconomia amazônica

A FAS executa o projeto “Sistema de Rastreabilidade: Inovação e Inteligência de Mercado na Cadeia Produtiva do Pirarucu da RDS Mamirauá” com apoio da Positivo Tecnologia, por meio do Programa Prioritário de Bioeconomia (PPBio), política pública da Suframa que o Idesam coordena.

Leandro Rosa dos Santos, vice-presidente de Estratégia e Inovação da Positivo Tecnologia, afirma que a empresa tem responsabilidade com a Amazônia. “A inovação e a sustentabilidade fazem parte do DNA da Companhia, por isso é tão importante apoiar iniciativas que preservem o meio ambiente e o desenvolvimento econômico e social”, comenta. “Uma das nossas principais fábricas, responsável por boa parte da produção, está localizada na Zona Franca de Manaus. Participar desse projeto é, também, uma forma de retribuir e ressaltar a importância que os ecossistemas naturais têm para nós e para todo o planeta”.

Foto: Rodolfo Pongelupe

Thiago Boutin, líder técnico de PD&I da empresa, reforça: “A Positivo, como uma empresa 100% brasileira, tem orgulho de apoiar iniciativas que fortalecem a cadeia do pirarucu, um peixe que chegou a ficar ameaçado de extinção na década de 1990”.

As ações contribuem diretamente para os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), incluindo redução da pobreza, crescimento econômico, consumo e produção responsáveis e vida na água.