Resumo da notícia
- Pesquisadores da UFSCar criaram um método sustentável que utiliza quitosana extraída de resíduos de camarão e melaço de cana para substituir o ácido sulfúrico na produção industrial de etanol, reduzindo riscos e impactos ambientais.
- A quitosana, conhecida por suas propriedades antimicrobianas, mostrou eficiência contra bactérias contaminantes sem prejudicar a levedura usada na fermentação, mantendo a qualidade do processo sucroenergético.
- O processo inovador usa fermentação lática para extrair quitina dos resíduos de camarão e melaço de cana como fonte de carbono, promovendo economia circular ao reaproveitar subprodutos e reduzir custos.
- Três empresas já demonstraram interesse em parcerias para testar a técnica em escala industrial, que além de substituir o ácido sulfúrico, pode gerar produtos com diferentes aplicações, como embalagens biodegradáveis e microesferas para medicamentos.
Resumo gerado pela redação.
Pesquisadores da UFSCar desenvolveram um método sustentável para substituir o ácido sulfúrico no processo industrial do etanol. A técnica utiliza quitosana, um polímero com propriedades antimicrobianas, extraído de resíduos de camarão e melaço de cana.
Uso da quitosana
A quitosana já é usada na agricultura, indústria e setor farmacêutico. Serve para combater pragas, produzir embalagens biodegradáveis e fabricar curativos e medicamentos. Agora, um estudo conduzido no Campus de Araras mostra que ela também pode atuar na indústria sucroenergética.
A pesquisadora Sandra Regina Ceccato Antonini, do Departamento de Tecnologia Agroindustrial e Socioeconomia Rural da UFSCar, liderou o projeto. Ela explica que a ideia surgiu ao buscar antimicrobianos naturais para reduzir riscos na produção de bioetanol. Hoje, o setor utiliza ácido sulfúrico, produto corrosivo que pode causar acidentes.
Você também pode gostar:
+ Agro em Campo: Picapes do agro brilham entre os 50 carros mais vendidos de julho
+ Agro em Campo: Novo biofungicida controla fungos de solo com alta eficácia
Diferencial da pesquisa
O diferencial da pesquisa está no método de obtenção. A equipe desenvolveu um processo para extrair quitina, precursora da quitosana, a partir de resíduos de camarão. Para isso, usou fermentação lática com bactérias produtoras de ácido e enzimas proteolíticas. Em seguida, converteu a quitina em quitosana por desacetilação.
Os testes iniciais comprovaram a eficiência da quitosana contra bactérias contaminantes sem afetar a levedura usada na fermentação. Depois, os pesquisadores substituíram o meio de cultura caro por melaço de cana, um subproduto da produção de açúcar. A mudança manteve a mesma eficácia.
A equipe também adaptou o processo para produzir quitosana de baixo peso molecular, com maior atividade antimicrobiana. Em testes de bancada, a quitosana reduziu as bactérias com a mesma eficiência do ácido sulfúrico.
Economia circular e inovação
Segundo Antonini, o uso do melaço como fonte de carbono é inédito. Além de reduzir custos, o método aproveita resíduos, reforçando a economia circular. A técnica também permite ajustar a desacetilação para gerar quitosanas com diferentes aplicações, como filmes para embalagens e microesferas para encapsular antibióticos.
A pesquisadora destaca outro avanço: revestimentos com quitosana de melaço melhoraram embalagens de café especial, preservando a qualidade sensorial. Agora, a equipe trabalha na formulação de um produto específico para o setor sucroenergético. Três empresas já demonstraram interesse em parcerias para testes em escala industrial.
Impacto ambiental e futuro
A substituição do ácido sulfúrico reduz riscos ambientais e aproveita resíduos agroindustriais. Embora a etapa de desacetilação ainda utilize base química, estudos apontam para a possibilidade de processos biológicos com enzimas fúngicas. “Estamos focados na viabilidade técnica. Em termos ambientais, os ganhos são expressivos, com menor impacto químico e reaproveitamento de resíduos”, afirma Antonini.
O próximo passo será avaliar a viabilidade econômica e testar a tecnologia em escala industrial. Se aprovada, a solução pode transformar a produção de bioetanol no Brasil.