Resumo da notícia
- A achachairu, fruta boliviana pouco conhecida no Brasil, vem ganhando espaço no agronegócio com cultivo estratégico em regiões como Espírito Santo e São Paulo, focando no crescimento gradual para criar demanda.
- Mais de 50% da produção é destinada à exportação para União Europeia, Canadá, Oriente Médio e Ásia, onde a fruta é mais valorizada e o mercado oferece preços estáveis, compensando os altos custos logísticos.
- O cultivo exige cuidados específicos, como plantio imediato das sementes e temperatura entre 25°C e 35°C, e a fruta é reconhecida por seu sabor único, levemente ácido e apreciado por consumidores.
- O mercado interno enfrenta dificuldades, o que motiva produtores a apostar na exportação como principal estratégia para garantir sustentabilidade e crescimento do negócio.
Resumo gerado pela redação.
Uma fruta com nome de difícil pronúncia vem ganhando espaço silenciosamente no agronegócio brasileiro. A achachairu (pronuncia-se “achachairú”), de origem boliviana, planta da família do mangostão, representa um exemplo curioso de como produtos exóticos podem encontrar nichos de mercado mesmo sendo pouco conhecidos domesticamente.
Foi em 2001 que o produtor Abel Basílio de Souza Neto conheceu a fruta exótica de origem boliviana, quando seu tio trouxe algumas sementes da Bolívia para cultivo familiar. O que começou como curiosidade transformou-se em negócio promissor. Em 2007, Souza Neto plantou 600 árvores em consórcio com as lavouras de café que sua família cultivava em Itarana, região serrana do Espírito Santo.
Hoje, passados mais de 15 anos desde o primeiro plantio comercial, são mais de 3 mil árvores, que renderam ao produtor 50 toneladas de frutas na última safra. O crescimento foi estratégico: “Todo ano plantamos um pouco. Nossa estratégia foi crescer devagar para construirmos uma demanda pela fruta”, explica o produtor.
Mercado externo como salvação
O paradoxo da achachairu brasileira é revelador. “No mercado externo a fruta é mais conhecida do que no Brasil”, diz Souza Neto, que já destina mais de 50% de sua produção para países da União Europeia, Canadá e parte do Oriente Médio e Ásia.

A estratégia de exportação nasceu da necessidade. “A venda externa foi uma aposta para driblar a dificuldade de venda no Brasil. O valor pago lá fora é mais estável, não oscila em época de safra, o que torna os embarques interessantes, mesmo com os altos custos logísticos”, afirma o produtor capixaba.
Em São Paulo, outro polo de produção se desenvolveu na região de Araçatuba, onde a produtora Renata Fernandes administra o pomar iniciado por seu pai há 13 anos. Com cerca de 480 árvores em produção, ela também apostou na exportação: “Enviei duas toneladas para a França, e a aceitação do produto foi excelente. Este ano devemos embarcar um volume maior”.
Características e cultivo
A achachairu pertence à família das Garcinias, cujas espécies mais conhecidas no Brasil são a Garcinia gardneriana, de nome popular bacupari, de ocorrência natural na Amazônia e na Mata Atlântica, e a Garcinia mangostana, conhecida como mangostão, explica José Edmar Urano de Carvalho, pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental.
O cultivo da fruta exige cuidados específicos. “As sementes de achachairu não suportam secagem. Portanto, devem ser semeadas logo que retiradas dos frutos. Elas produzem bem quando cultivadas em locais com temperatura entre 25 graus e 35 graus centígrados”, detalha o pesquisador.
Quanto ao sabor, a unanimidade é positiva: “o sabor é muito bom. Não há quem prove a fruta e não a aprecie”, garante Carvalho. A fruta apresenta características únicas, com um leve toque ácido que a diferencia de outras frutas tropicais.
Desafios do mercado interno
No Brasil, há pequenos pomares caseiros em Santa Catarina, São Paulo, Espírito Santo e Pernambuco, mas a comercialização interna ainda enfrenta obstáculos significativos. “A primeira compra é sempre motivada pela curiosidade”, reconhece Souza Neto.
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O principal gargalo é a oferta restrita, uma vez que a maior parte das redes de supermercados e atacadistas ainda reluta em apostar em um item pouco conhecido. No Estado de São Paulo, principal mercado consumidor, “Quem abre o mercado é o Ceagesp”, referindo-se ao maior centro atacadista da América Latina.
Números e perspectivas
Os preços variam consideravelmente entre regiões e períodos de safra. Em São Paulo, no início da última safra, em outubro de 2024, o quilo era negociado a R$ 55, valor que caiu para R$ 40 no final da safra em fevereiro. No Espírito Santo, onde a colheita vai de janeiro a abril, os preços oscilaram de R$ 22 a R$ 10 por quilo.
Globalmente, a maior produtora mundial é a região de Santa Cruz, na Bolívia, que soma 2 mil hectares e safra anual de cerca de 100 toneladas. No Brasil, ainda não existem estatísticas oficiais sobre a área plantada, mas a tendência é de crescimento gradual.

A produtividade brasileira mostra-se promissora. “Em geral, a produtividade oscila em torno de 2 mil frutos por árvore”, segundo Renata Fernandes, cuja colheita cresce cerca de 20% ao ano em função da maturação das árvores de diferentes idades.
Um futuro exótico
A achachairu representa um fenômeno interessante no agronegócio brasileiro. Uma fruta que conquistou mercados externos antes mesmo de ser descoberta pelos consumidores nacionais. Embora ainda não existam linhas de pesquisa sobre achachairu no Brasil, os resultados obtidos pelos pioneiros sugerem potencial para expansão tanto no mercado interno quanto externo.
Para os poucos produtores brasileiros, o desafio atual é equilibrar o crescimento da produção com o desenvolvimento do mercado doméstico. Mantendo a qualidade que tem garantido sucesso nas exportações. A achachairu pode estar no início de uma trajetória que a levará das propriedades familiares aos supermercados, seguindo o caminho de outras frutas exóticas que se tornaram comuns no Brasil.
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