O avanço descontrolado do javali (Sus scrofa), também chamado de javaporco quando cruza com porcos domésticos, tornou-se um dos maiores desafios do agronegócio brasileiro. O animal já ocupa áreas do Sul, Sudeste, Centro-Oeste e avança para o Nordeste, afetando lavouras, ameaçando rebanhos e preocupando comunidades rurais.

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Como o javali chegou ao Brasil

A espécie é exótica, ou seja, não faz parte da fauna nativa. Empresários introduziram o javali oficialmente na década de 1980, acreditando na abertura de um mercado para produção e consumo de carne exótica. Na época, criadores importaram muitos animais da Europa e da Ásia para criação em cativeiro.

Porém, o mercado não se consolidou, a fiscalização falhou e inúmeros criadores abandonaram os plantéis. Com alta adaptabilidade, os javalis escaparam, encontraram abundância de alimento nas lavouras e passaram a se multiplicar de forma acelerada.

Hoje, estima-se que milhões de javalis circulem pelo Brasil, com densidade maior no Sul e no Centro-Oeste, regiões de forte produção agrícola.

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Riscos concretos para agricultura e pecuária

A capacidade reprodutiva impressiona: uma única fêmea pode gerar até 20 filhotes por ano. Esse crescimento explosivo resulta em prejuízos expressivos:

  • Agricultura: javalis invadem plantações de milho, soja, feijão e cana-de-açúcar. Pisoteiam lavouras, arrancam raízes e chegam a destruir hectares inteiros em poucas horas.

  • Pecuária: os animais destroem cercas, rompem bebedouros e competem com bovinos e suínos por água e alimento. Além disso, transmitem doenças como a peste suína clássica e a tuberculose bovina, colocando em risco a sanidade do rebanho.

  • Segurança alimentar: prejuízos bilionários na produção de grãos e proteínas afetam não só o agronegócio, mas também consumidores, com risco de alta nos preços de alimentos.

Debate sobre o controle

O presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), deputado Pedro Lupion (PP-PR), tem defendido mais rigor no manejo:

“A gente não está tratando de extinguir uma espécie da fauna brasileira que precisa ser preservada. O javali não é daqui, foi trazido. Estamos falando de uma praga que destrói lavouras, infecta o gado e traz grave risco à população do interior do Brasil”, disse Lupion.

Por outro lado, caçadores credenciados pelo Ibama relatam entraves burocráticos para obter autorizações, enquanto ambientalistas pedem regras mais claras para evitar maus-tratos e garantir segurança em operações de controle.

Perigo também para comunidades rurais

Além do impacto econômico, há risco direto para pessoas. Animais adultos ultrapassam 200 quilos, possuem presas afiadas e são extremamente agressivos quando acuados. Agricultores, trabalhadores rurais e cães de caça já sofreram ataques de javalis, principalmente no Sul e no Centro-Oeste.