Resumo da notícia
- Equipe de paleontólogos confirmou as primeiras pegadas de pterossauros no Brasil, encontradas em rochas da Formação Botucatu em Araraquara (SP), revelando detalhes inéditos sobre esses répteis pré-históricos.
- As pegadas, do icnogênero Pteraichnus, indicam que o pterossauro se locomovia com membros dianteiros digitígrados e traseiros plantígrados, mostrando uma adaptação única para andar no solo.
- Estima-se que o animal media cerca de 60 cm de altura no quadril e tinha asas com envergadura superior a 2,5 metros, posicionando-o entre os maiores pterossauros do grupo azhdarchoid no mundo.
- Os fósseis foram coletados em 2004, mas só agora tiveram sua descoberta validada cientificamente; estão em exibição gratuita no Museu da Ciência Professor Mário Tolentino, em São Carlos (SP).
Uma equipe de paleontólogos acaba de confirmar a descoberta das primeiras pegadas de pterossauros já registradas no Brasil. O estudo, publicado na renomada revista Anais da Academia Brasileira de Ciências, analisou fósseis coletados há 20 anos em uma pedreira de Araraquara (SP) e revela novos detalhes sobre o comportamento e a anatomia desses animais pré-históricos.
Diferente dos ossos de pterossauros já encontrados no Nordeste e Sul do Brasil, esses vestígios são icnofósseis – marcas deixadas pela atividade dos animais, como pegadas. Eles estavam preservados nas rochas da Formação Botucatu, uma extensão de areia que, há cerca de 135 milhões de anos, formava um vasto deserto que ia do sul de Minas Gerais ao Uruguai.
“Até então, esse paleodeserto só havia preservado pegadas de lagartos, pequenos mamíferos e dinossauros. A confirmação dos pterossauros preenche uma lacuna importante e mostra que tínhamos uma cadeia alimentar complexa, mesmo em um ambiente árido”, explica o professor Marcelo Adorna Fernandes, da UFSCar, um dos autores do estudo.
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A “pisada” única de um réptil voador
As análises detalhadas, conduzidas por pesquisadores da UFRJ e pelo paleontólogo italiano Giuseppe Leonardi, permitiram atribuir as pegadas ao icnogênero Pteraichnus, relacionado a pterossauros do grupo azhdarchoid, o mesmo do gênero brasileiro Tupandactylus.
O estudo da morfologia das pegadas revelou como o animal se locomovia no solo:
- Membros dianteiros: o pterossauro apoiava apenas os dedos, em um movimento digitígrado, semelhante ao de cães e gatos.
- Membros traseiros: o apoio era feito com toda a sola do pé, uma característica plantígrada, como fazem os humanos e os ursos.
Com base no tamanho das pegadas, os pesquisadores estimam que o animal media cerca de 60 centímetros de altura no quadril e tinha uma envergadura de asas superior a 2,5 metros, colocando-o entre os maiores representantes de seu grupo no mundo.
Da coleta à exposição: uma longa jornada científica
Os fósseis foram coletados durante o doutorado do professor Fernandes, em 2004, mas a validação científica só ocorre agora. “A validação científica só se concretiza quando o material é estudado e interpretado em um artigo publicado. Muitas outras pegadas da nossa coleção ainda seguem em análise”, complementa o pesquisador.
O público pode ver as primeiras pegadas de pterossauros do Brasil de perto. Os fósseis estão em exposição permanente no Museu da Ciência Professor Mário Tolentino, em São Carlos (SP), com entrada gratuita.